A diplomacia brasileira só teve certeza de que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, faria um gesto em direção ao Brasil, no momento em que, nos bastidores da 80ª Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), o americano chegou minutos antes de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva terminar seu discurso na abertura da reunião.
Nos últimos três meses, o Brasil fez um trabalho de bastidores para tentar um encontro entre os dois líderes. No dia 30 de julho, o chanceler Mauro Vieira e o secretário de Estado americano, Marco Rubio, tiveram uma reunião. Não havia, porém, perspectiva concreta de um encontro entre os dois presidentes.
Nesta terça-feira, 23, atrás do palco da ONU, Trump se colocou bem na passagem do brasileiro e os dois tiveram uma breve conversa. “Havia a possibilidade [de uma sinalização], mas não era o caso de se gerar expectativas. Ao chegar antes e se colocar onde Lula passaria, Trump fez o gesto e depois fez referência positiva em seu discurso”, disse ao PlatôBR um diplomata brasileiro.
No discurso, Trump se referiu a Lula como um “homem muito legal” (“very nice man”). Disse também que os dois se abraçaram e combinaram de se encontrar na próxima semana, sem detalhar data ou local.
Apesar da sinalização, o governo brasileiro vê com cautela o chamado para uma reunião na semana que vem. Para evitar possíveis constrangimentos, a diplomacia negocia para que esse primeiro contato seja feito por telefone, ou por meio de uma videoconferência. Lula deve retornar ao Brasil na quinta-feira, 25.
A precaução do governo brasileiro faz sentido. Além do histórico de hostilidades em relação ao Brasil, como a imposição de tarifas às exportações associadas à tentativa de interferência no Judiciário brasileiro, houve as sanções e negativas de vistos para autoridades. Na véspera da viagem de Lula, medidas tomadas pelo governo americano atingiram a família do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), e o ministro Jorge Messias, da AGU (Advocacia-Geral da União).
Outro fator de preocupação para a diplomacia brasileira é o fato de que Trump submeteu líderes de outros países a constrangimentos em visitas à Casa Branca. No encontro com o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, por exemplo, Trump cobrou explicações sobre o “genocídio branco” no país africano, apresentando um vídeo com falsas acusações.
Também na Casa Branca, o presidente da Ucrânia, Volodmir Zelensky, foi acusado pelo americano de “brincar com a 3ª Guerra Mundial”. Ao receber o primeiro-ministro canadense, Mark Carney, Trump falou de uma possível anexação do Canadá pelos Estados Unidos.
A preocupação do governo brasileiro é que o formato do encontro não sirva para que Trump imponha humilhações a Lula e coloque a perder a perspectiva de diálogos futuros.