Quarta-feira é o dia de oração na residência de Jair Bolsonaro. A prisão domiciliar transformou a rotina da família desde o início de agosto. Com o ex-presidente sob forte monitoramento policial, as reuniões semanais do grupo religioso da ex-primeira-dama Michelle foram adaptadas às regras, que impõem pedidos e autorizações judiciais, revistas policiais na entrada e na saída, e monitoramento dos passos em tempo integral, dentro e fora do imóvel. Os hábitos são controlados pelo ministro do STF Alexandre de Moraes, relator do processo.
Dezesseis pessoas têm autorização para o encontro desta quarta-feira, 24. Em sua decisão, Moraes destacou o direito de todo preso, provisório ou definitivo, à assistência religiosa. As orações foram encaixadas na nova rotina que dominou o lar de reuniões políticas diárias de Bolsonaro.
Desde o início da prisão domiciliar, o Supremo permitiu os encontros com deputados, senadores e membros do partido. As visitas políticas se intensificaram depois da sentença da Primeira Turma e do diagnóstico recebido dos médicos de câncer de pele.
Nesta semana, algumas dessas reuniões com aliados reforçam o papel de líder da direita que, mesmo condenado e com direitos políticos cassados, Bolsonaro procura desempenhar. Ele busca manter influência no partido e indicar os caminhos para a sucessão eleitoral.
Na lista de visitas da semana estão o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, o líder da oposição no Senado, Rogério Marinho (PL-RN), o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), e o relator do projeto da anistia na Câmara, Rodrigo Valadares (União-SE).
A defesa de Bolsonaro pediu autorização para encontros semanais com alguns deles, caso de Valdemar e Marinho. Nos pedidos ao STF, os advogados citam a “necessidade de manutenção de tratativas institucionais contínuas” e o “diálogo direto” com o ex-presidente, classificado como essencial para atuação dos aliados. “Inclusive para definição de estratégias e acompanhamento de pautas relevantes ao partido e à representação popular”, afirma o documento. Moraes não atendeu à solicitação da defesa. Para cada visita, o pedido deve ser renovado.
Na série de encontros previstos, a segunda-feira, 29, será a data mais relevante. Bolsonaro receberá nesse dia o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), seu ex-ministro da infraestrutura e nome mais forte do campo da direita para as eleições presidenciais de 2026. No mesmo dia, o presidente do STF, ministro Luís Roberto Barroso, passa o comando da corte para o ministro Edson Fachin.
Pente fino
O ministro Alexandre de Moraes tem liberado as visitas religiosas e políticas, com algumas poucas exceções. No caso do grupo de oração, o relator determinou que os encontros não podem ser usados como pretexto para contatos fora do escopo religioso nem para ampliar indevidamente a lista de autorizados.
A ordem é que todas as visitas tenham regras e condições fixadas pelo Supremo a serem cumpridas. Uma delas é a vistoria dos veículos na entrada e na saída da residência. Moraes cobrou rigor nas triagens em documento enviado nesta segunda-feira, 22, à Secretaria de Administração Penitenciária do Distrito Federal, responsável por vigiar o condenado. O relator quer dados da inspeção em dois veículos que entraram e saíram da casa, um dia após a condenação de Bolsonaro.
Moraes está atento e deve intervir se perceber algum indício de que a rotina de visitas ao ex-presidente pode virar parte de um novo motim para instigar a violência contra o STF e adversários políticos.