Filho e bisneto de políticos, João Campos herdou o peso de uma dinastia pernambucana, mas transformou o sobrenome em plataforma para tentar inovar na política. Prefeito mais jovem da história das capitais e reeleito com a maior votação da história do Recife, ele ganhou projeção nacional por falar a língua da tecnologia e se aproximar da vida real de seus seguidores, que transcendem a cidade que governa.

Aos 31 anos, Campos deve disputar o governo de Pernambuco em 2026 e já é cotado como possível candidato à Presidência no futuro. Em entrevista ao Papo Amado, do canal Amado Mundo, o prefeito falou sobre o legado do pai, Eduardo Campos (1965-2014), e do bisavô Miguel Arraes (1916-2005), contou como driblou a formalidade da política, comentou o namoro com a deputada Tabata Amaral e os desafios de liderar o PSB.

A seguir, os principais trechos da entrevista. Assista à íntegra em vídeo ao final do texto.

A marca que seu pai criou em Pernambuco. É um fardo ou te ajuda?

Se fosse um fardo seria muito pesado, por isso prefiro vê-lo como inspiração. Ele marcou gerações e faleceu com 93% de aprovação como governador, já candidato à Presidência. Tenho convicção que ele seria presidente. Creio que, no subconsciente, meu pai sabia que viveria pouco, pois sua intensidade foi muito grande.

Você era jovem quando ele morreu, já queria ser político?

Sempre gostei de política e o acompanhei. No início, não me via na linha de frente. Hoje faço o que gosto, que é o segredo do sucesso. A vida é cheia de problemas, então devemos enfrentá-los com cabeça erguida e leveza. Isso falta na política, que virou uma arena de briga e gritos.

Onde você se coloca no eixo político?

Sou progressista de centro-esquerda e não tenho dúvida disso. Mas acredito que a gente precisa ter reflexões importantes e conseguir estar dentro da pauta da vida real das pessoas. É uma crítica que faço à esquerda de não ter a capacidade de fazer um debate ou uma construção que consiga superar estigmas de maioria na população e chegar no essencial que é realizar uma ação concreta.

Como você conheceu a deputada Tabata Amaral, sua namorada?

Nos conhecemos numa entrevista e depois na Câmara, atuando em pautas de educação. Formamos um grupo entre parlamentares de primeiro mandato e, depois de trabalhar como colegas, começamos a namorar. O grupo focou em educação e aprovou projetos importantes, como o Marco Legal do Ensino Técnico, que criei e virou lei. Depois que assumi a prefeitura de Recife, segui essa linha e dobrei as vagas de creche em quatro anos, superando as 16 mil hoje, além de cumprir metas como alfabetização na idade certa e ampliar a educação integral.

Parte da sua equipe de comunicação foi para a Secom. Como foi exportar essa expertise para o Governo Lula?

O Lula é um craque na política. Votei nele e votarei nele na próxima eleição. Ele tem um governo melhor do que o que as pessoas percebem. Se a comunicação for melhor do que o governo, é incoerente. Se você entrega mais do que está sendo visto pelas pessoas, também é um problema. Mas a comunicação só não resolve. É um tripé: política, gestão e comunicação. Se qualquer uma dessas bases estiver desequilibrada, vai comprometer as outras duas.

Como fez isso no Recife?

Queríamos comunicação clara, realista e de serviço, não propaganda. O melhor marketing é serviço bem-feito. Assim que, em 15 de janeiro de 2021, determinei que a vacinação contra a Covid seria 100% digital. O cidadão marcava data e local pelo Conecta Recife. Em oito meses, alcançamos 1,5 milhão de cadastros, o equivalente a toda a população. A partir daí, o Recife virou uma plataforma digital: hoje são mais de 800 serviços oferecidos pelo WhatsApp, com acessibilidade e foco em facilitar a vida do cidadão.

Está certa a candidatura ao governo do estado?

Estou tranquilo. Tenho feito o meu trabalho no dia a dia da prefeitura, me dedicado muito, com muita animação. Tenho, enquanto presidente nacional do partido, também conversado muito política Brasil afora. O nosso partido vai ter uma candidatura ao governo no próximo ano em Pernambuco. E ninguém é candidato de si, né? Tem que ser candidato de um conjunto de ideias, pessoas, partidos, crenças.

Se vencer em 2026, pensa em concorrer à presidência em 2030?

Impossível prever agora. A política muda da noite para o dia, então imagina em seis anos. Só tenho a certeza de que estarei à disposição para dar o melhor de mim. Lula terá que construir uma caminhada depois que sair da vida pública e será protagonista para decisão de 2030. É fato que a eleição de 26 ainda terá muita demarcação com as grandes potências eleitorais: Lula e Bolsonaro. Mas 2030 pode ser uma página zerada.

Você reconhece que há diferença de um Tarcísio, Zema, Caiado para um Bolsonaro?

Em parte. Ninguém é igual a ninguém, mas acredito que alguns têm cartilhas diferentes a serem seguidas. O que me preocupa é ter uma base inegociável. Você não pode achar que, para ganhar uma eleição, tem que se comprometer com o que não pode ser feito. Para ser candidato de um campo específico, terá que rezar uma cartilha onde parte da reza não é possível numa democracia? Tem que ter cuidado com o compromisso com a direita.

Francisco Dornelles já descreveu o Bolsonaro como “trem desgovernado”. Você foi prefeito no governo dele, a sensação era de que uma hora ia explodir?

Eu concordo de certa forma, mas é importante separar as coisas. Bolsonaro teve mais de 40 milhões de votos. Já os atos antidemocráticos de 8 de Janeiro reuniram apenas 3 a 4 mil pessoas. Não dá para achar que todos os eleitores se sentem representados por esse grupo. Ser de direita ou conservador não é problema nenhum. O que não cabe, numa democracia, é defender uma ditadura. Então, não dá para pegar os 40 milhões e dizer que, para Bolsonaro representá-los, ele tem que defender os 3 mil.

Os Arraes e Campos estão em cargos altos da política pernambucana desde a década de 60, com oscilações. Vocês se enxergam como uma “oligarquia política de esquerda”?

Não. Até porque tem eleição. Há uma visão equivocada de quem não nos conhece. A maioria dos exemplos que unem família, política e rincões do Brasil são estruturas de impérios econômicos e isso está muito longe da nossa realidade. E, também, cada um de nós teve a sua forma inovar em seu tempo. Meu bisavô fez o maior programa de eletrificação da zona rural do estado e o primeiro acordo trabalhista do campo do Brasil; meu pai construiu o Pacto pela Vida, e hoje não existe cidade no Brasil com uma agenda de tecnologia e transformação digital do tamanho que Recife tem. Então, os tempos mudaram completamente.