Desde o ano passado, foram recorrentes as vezes em que o ministro Márcio Macêdo (Secretaria-Geral) esteve prestes a sair da pasta. Há cerca de duas semanas, em entrevistas, ele próprio contou nove sobrevidas ao “fogo amigo” e chamou de “fofoca” e “cerco político” os rumores em torno de seu cargo, um dos mais próximos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Apesar dos boatos, Macêdo fica na pasta, pelo menos por enquanto. Ele viajou com Lula para Belém, onde cumpriu agenda com movimentos socias na preparação para a COP30, a conferência do clima da ONU, que ocorre no próximo mês em Belém.
Macêdo está acostumado a atender a pedidos de Lula, mesmo que representem sacrifícios de ambições políticas em voo solo. Por isso, se acontecer, sua demissão será um episódio constrangedor para o presidente. O cargo que ele ocupa hoje no Planalto advém exatamente de um gesto feito a Lula.
Em 2022, quando ele se preparava para tentar concorrer a reeleição para deputado federal, o presidente lhe pediu que não disputasse cargo nas urnas para ser o tesoureiro da campanha. Em troca, teria uma pasta no governo. Na época, Lula considerava que uma função tão central não poderia ser exercida por alguém que também estivesse em campanha eleitoral.
No ano que vem, um teste nas urnas será arriscado para o ministro. O curto mandato de deputado federal que ele exerceu foi assumido em abril de 2022, pouco tempo antes das eleições, no lugar de Valdevan Noventa (PL), parlamentar cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), devido a abuso de poder econômico na campanha. Macêdo era suplente. Hoje, ele nega a decisão de se candidatar e, sempre que é alvo de especulações sobre sua saída da pasta, alega que o presidente Lula nunca o chamou para falar do assunto.
Homem de confiança
O nível de confiança de Lula em Macêdo é alto, mas isso não representa satisfação com o desempenho na tarefa de mobilizar os movimentos sociais para a defesa do governo. O próprio Lula demonstrou contrariedade com o ato esvaziado organizado pelo ministro no 1º de maio do ano passado. Preparar esse tipo de mobilização é uma especialidade do deputado Guilherme Boulos (PSol-SP), várias vezes cotado para substituir o ministro na pasta.
Quando assumiu a contabilidade da campanha durante seu rápido mandato na Câmara, Macêdo já tinha histórico de serviços a Lula. Foi a pedido do presidente que ele passou a tomar conta da tesouraria do partido em 2015, quando João Vaccari Neto deixou a função, preso pela operação Lava Jato sob acusação de corrupção, desvio e lavagem de dinheiro. Vaccari teve sua condenação anulada pela 5ª Turma do STJ (Superior Tribunal de Justiça (STJ) em 2021.
“Fogo amigo”
No PT, a aposta predominante é que Macêdo concorrerá a um cargo na Câmara dos Deputados, mas essa definição ainda depende da costura que ele conseguirá fazer em Sergipe. Nas últimas eleições internas da legenda, o PT sergipano passou para o comando do senador Rogério Carvalho, que vai disputar a reeleição e é de uma corrente adversária do grupo de Macedo no estado. O senador tem pretensões de lançar sua mulher, a jornalista Candisse Carvalho, para o cargo de deputada federal ou para uma vaga na Assembleia Legislativa de Sergipe.
Nas últimas eleições municipais, Candisse concorreu à Prefeitura de Aracaju, no entanto, não chegou ao segundo turno. Ela obteve 28.049 votos, o equivalente a 9,24% dos votos válidos na capital. Petistas argumentam que Carvalho pode dificultar a campanha de Macêdo, caso sua mulher realmente se candidate a deputada federal. Mas essa é uma conta que ainda será definida no estado considerando as alianças a serem fechadas e o cálculo de quantos deputados o partido poderá levar para Brasília.