A possível ida do deputado federal Guilherme Boulos (PSol-SP) para o governo é um assunto dado como certo no PSol, mas que ainda levanta muita dúvida no Planalto e no PT, principalmente por se tratar de um plano da cabeça do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que nada tem a ver com as costuras partidárias. Tanto o PT quanto o PSol guardam certo distanciamento da questão e ainda cultivam rusgas antigas e do presente.

Um exemplo de descontentamento mútuo se dá em relação à ideia de se formar uma federação no campo mais à esquerda da base do governo. O leque completo teria: PT, PCdoB e PV, que já formam federação, PSol e Rede, também agrupados, e ainda o PDT. 

Entre PT e PSol, a conversa não está fácil. “Parece que há uma decisão do PSol que não abre essa possibilidade de fazer federação conosco”, disse o deputado Jilmar Tatto (PT-SP), vice-presidente de seu partido. “Eles querem continuar solo”, afirmou.

Tatto defende a união com o PSol, partido que surgiu de uma dissidência do PT, formada durante o primeiro governo de Lula por causa da reforma da Previdência e da crise do mensalão. “Nós temos um problema estrutural. Quando digo nós, estou falando da esquerda”, ressaltou o deputado.

As preocupações do deputado estão relacionadas ao tamanho das representações no Congresso. Os partidos de direita estão formando federações e o PT corre o risco de cair e se tornar a quarta bancada da Câmara. “Eu acho que nós deveríamos juntar todo mundo, todos os progressistas e fazer uma federação. Isso dá uns 130 deputados”, disse Tatto. Ele cita o PL, maior bancada, a federação formada pelo União Brasil com o PP, e uma possibilidade de ligação do Republicanos com o MDB.

Dentro do PT, as posições são variadas sobre esse assunto. “Seria interessante abrir esse debate no diretório nacional do PT, com calma”, disse Tatto.

Da parte do PSol, a ida de Boulos para a Secretaria-Geral da Presidência da República é avaliada como uma decisão já tomada pelo presidente Lula e que não vincula a formação de uma federação com o PT, apesar do desejo já manifestado por integrantes do partido do presidente. “Essa história de federação não existe. Tivemos a conferência do PSol no fim de semana passado e isso não foi colocado. O Boulos vai para o ministério porque o Lula falou que ele vai. Agora, o porquê de tanta demora ninguém sabe dizer”, disse o deputado Ivan Valente (PSol-SP), principal responsável pela chegada de Boulos ao PSol.

Entrave eleitoral
Além das divergências ideológicas entre as duas legendas, visto que o PSol nasceu de uma dissidência da esquerda do PT, o principal fator que tem impedido a conversa é um cálculo eleitoral. Nos últimos anos, o PSol passou a ter um bom desempenho nas urnas para os mandatos legislativos, principalmente em estados importantes do sudeste, como Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo.

O próprio Boulos teve peso nesse desempenho, pois foi eleito em 2022 com mais de um milhão de votos. No ano que vem, o partido apostará em nomes como o da deputada Erika Hilton (SP), por exemplo, para embalar a campanha no lugar do deputado, caso ele de fato assuma a vaga no Planalto. 

O PT gostaria de aproveitar esse potencial para também se fortalecer como bancada nesses estados, mas é exatamente isso que o PSol rechaça. Uma federação funciona como um partido único e, portanto, com uma lista de nomes na eleição proporcional. Para o PSol, compor essa lista com o PT pode significar não eleger novos nomes seus e interromper a trajetória ascendente de eleições para o Legislativo.