A indicação pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, do secretário de Estado, Marco Rubio, como interlocutor com o Brasil no nível diplomático foi vista com naturalidade por autoridades brasileiras, apesar do alinhamento político do secretário com a direita mais radical e de sua proximidade com a família do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Em julho deste ano, o ministro Mauro Vieira (Relações Exteriores) se encontrou com Rubio em Washington, horas antes do anúncio de sobretaxas sobre as exportações brasileiras. Mesmo com esse precedente, o governo avalia que, com a indicação formal de Rubio, será possível avançar em um diálogo mais profícuo daqui para a frente.
“O encontro de julho foi o auge da crise. Faltava Trump habilitar um interlocutor, e isso aconteceu no telefonema”, disse uma fonte do governo, sob reserva.
Claro que o governo ainda trata a aproximação com o governo de Trump com cautela. Ainda não há encontro marcado entre Rubio e o embaixador Mauro Vieira, mas isso deverá ser organizado nos próximos dias.
No primeiro encontro, o governo brasileiro não conseguiu conter o tarifaço nem evitar que sanções contra autoridades brasileiras fossem implementadas. A influência do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL-RJ), sobre Rubio ficou evidente com postagens feitas pelo secretário americano nas redes sociais para criticar o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal). Relator do processo sobre a tentativa de golpe de Estado, Moraes é o principal alvo das pressões feitas pela família e por aliados do ex-presidente, condenado a mais de 27 anos de prisão.
O trabalho da diplomacia será viabilizar um encontro de Lula com Trump nos próximos meses e, também, tentar combater com dados reais as informações distorcidas sobre o Brasil levadas ao governo americano por Eduardo Bolsonaro. Segundo fontes do governo, o trabalho diplomático vai mostrar que os julgamentos respeitaram o direito de defesa dos réus e que as condenações em relação à tentativa de golpe de Estado ocorreram com provas robustas que evidenciam, ao contrário da tese de perseguição política apresentada pelo deputado, a solidez da democracia brasileira.
“Os fatos estão se impondo. O trabalho é apresentar esses fatos sobre a democracia brasileira e dizer o que aconteceu de verdade na campanha e após a eleição em 2022. Além disso, temos que mostrar que isso foi julgado, com abundantes evidências e com absoluta paz social”, disse um integrante do governo.
No telefonema com Trump, Lula pediu o fim do tarifaço e a revogação das sanções contra autoridades brasileiras. Para a continuação das conversas com o governo americano, o petista indicou como seus interlocutores o vice-presidente, Geraldo Alckmin, e os ministros Fernando Haddad (Fazenda), e Mauro Vieira.
Na tarde desta segunda-feira, Trump disse em uma entrevista na Casa Branca que pretende viajar ao Brasil “em algum momento”, ao ser questionado sobre o convite de Lula para que ele compareça à COP30 em Belém. Na mesma entrevista, o presidente dos Estados Unidos voltou a dizer que Lula é “um bom homem”, que tiveram uma ótima conversa e que vão começar a fazer negócios.