A aprovação dos brasileiros à relação de Lula e Donald Trump, detectada pela pesquisa Genial/Quaest, não causou surpresa no Palácio do Planalto, que já vinha acompanhando a opinião pública sobre o tema em pesquisas internas. Os números, no entanto, reforçam a estratégia do governo de explorar ao máximo o assunto. A presença do ministro da Secretaria de Comunicação, Sidônio Palmeira, no telefonema de Lula com Trump já sinalizava que, para além das implicações políticas, econômicas e diplomáticas, a conversa é estratégica para a comunicação.

O relacionamento de Lula com Trump, que tem sido cautelosamente estudado pelo Planalto e pelo Itamaraty, “molda a imagem do governo”, como destacou um auxiliar do presidente. Na pesquisa divulgada ontem, 49% dos eleitores avaliaram que o petista saiu mais forte do encontro com o americano nos corredores da Assembleia Geral da ONU, contra 27% que consideraram o contrário. 

A pesquisa foi realizada dias antes do telefonema trocado entre os dois, na segunda-feira. A ligação foi acompanhada por Sidônio com duas intenções: fazer uma divulgação estratégica para dentro do país e produzir vacinas no campo da comunicação, caso a conversa não desse certo.

Por enquanto, essas vacinas não precisaram ser produzidas pela Secom. Os dois presidentes trocaram gentilezas e números de celular. Devem se encontrar pessoalmente no futuro próximo. Bem ao estilo do que os brasileiros dizem preferir, segundo a Genial/Quaest: 65% querem uma postura mais amigável, ante 25% que esperam um comportamento mais duro do presidente diante do colega americano.

Vista com esperança por Eduardo Bolsonaro, a escolha do secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, para negociar com o governo não preocupa tanto o Planalto. Rubio é o chefe da diplomacia da Casa Branca e tem papel semelhante ao do chanceler brasileiro. O secretário já teve conversa diplomática com Mauro Vieira dias antes de o governo americano retirar 700 itens da lista de produtos brasileiros tarifados em 50%.

Na Secom, avalia-se que o momento de recuperação de Lula nas pesquisas, deve-se não só à abertura de diálogo com Donald Trump, mas a uma sequência de aspectos favoráveis ao petista. Estão nessa lista a conjuntura política e econômica; frutos de ações do governo, como a campanha por soberania; erros de adversários, como a investida de Eduardo Bolsonaro pelo tarifaço; e algo que nunca faltou a Lula em seus dois primeiros mandatos: sorte. O rápido encontro entre os dois presidentes nos bastidores da ONU e a boa-vontade de Trump com Lula têm sido vistos também como um golpe de sorte.