A ministra Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais) sinalizou nesta segunda-feira, 13, que o governo vai continuar as demissões de ocupantes de cargos indicados por partidos do Centrão que não foram fieis ao governo, apesar de manterem seus nomeados na Esplanada, nos bancos públicos e em estatais. A decisão foi tomada por Lula após a Câmara barrar a medida provisória alternativa ao aumento do IOF, que renderia aos cofres do governo cerca de R$ 35 bilhões em receitas.
O “corte à faca” de Gleisi, expressão do líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), vai além da simples reação ao revés imposto pela Câmara ao governo. Parte também de uma avaliação de que as propostas mais importantes para o Planalto, como a isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, já foram aprovadas pelos deputados. Esse projeto ainda depende de votação no Senado, mas o governo avalia que o texto será chancelado sem turbulências pelos senadores.
Embora haja resistência entre deputados ao cumprimento do arcabouço fiscal, na análise do Planalto, a Câmara não encampará projetos que afetem o equilíbrio das contas públicas. Por isso, o governo ainda quer mandar ao Congresso uma proposta que recupere as receitas perdidas com a derrota da MP.
Desaprovação da Câmara
O governo não atribui a derrota da semana passada ao presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), mas identifica que a rejeição das ruas às pautas impostas pela oposição, como a da anistia, e pelo Centrão, como a “PEC da Blindagem”, acabaram interferindo negativamente na imagem da instituição. Com essa avaliação, o Planalto mudou a lógica de negociação com parlamentares: em vez de enviar textos que sejam aceitos pelo Congresso, a orientação é patrocinar propostas que tenham retorno eleitoral, mesmo que não sejam aprovadas.
Enquadram-se nesse critério, por exemplo, a proposta que estabelecerá a tarifa gratuita no transporte público e a PEC que acaba com a jornada 6X1. “São matérias que podem não surtir efeito antes das eleições, mas ninguém, em ano eleitoral, terá coragem de ir contra”, disse um governista ao PlatôBR.
A mudança de foco do Planalto acontece ao mesmo tempo que o Congresso se desgasta junto à opinião pública. Pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta segunda-feira, 13, mostra que 58% dos entrevistados desaprovam a Câmara. Em relação ao Senado, o descontentamento chega a 51%. No caso do governo, o índice de desaprovação é ligeiramente menor, de 48%.
A pesquisa identificou também que somente 15% dos entrevistados avaliam como positiva a atuação da Câmara, 36% regular, 39% negativa e 10% não souberam ou não responderam. Para 83% dos entrevistados, os deputados federais e senadores atuam em benefício próprio e só 11% avaliam que congressistas atuam em benefício do país.
Gleisi evita mencionar o termo “retaliação” ao falar das demissões. Prefere dizer que o governo pretende “arrumar” a base. “As indicações para ocupar cargos vão ser retiradas e nós vamos alocar essas indicações para aqueles que estão com o governo. Se quiserem continuar nos cargos, eles [partidos] têm que reavaliar a posição”, disse a ministra, em entrevista ao SBT. Ela indica também que as demissões não terminaram. “Vamos aproveitar isso para arrumar a base aliada do governo. Estamos passando um olhar por todos os órgãos. Ainda não terminamos esse mapeamento”, disse a ministra.