No quinto mandato de deputado federal, Julio Lopes (PP-RJ) foca a atuação em temas como novas tecnologias aplicadas à gestão pública, modernização do Estado e energia nuclear. Ele aponta a energia atômica como uma alternativa importante para o desenvolvimento do país e diz não entender por que o governo não concluiu Angra 3. A usina tem até funcionários contratados e equipamentos comprados para a operação, mas as obras estão paradas desde 2015, com um custo estimado em R$ 1 bilhão por ano.

Membro da Frente Parlamentar Mista de Tecnologia e Atividades Nucleares, o deputado vai realizar na próxima semana, na Câmara, uma exposição sobre o assunto. Em conversa com o PlatôBR, ele falou sobre Angra 3, reforma administrativa, mudanças na cobrança de impostos no país e “PEC da Blindagem”.

Lopes comentou ainda a baixa popularidade do Congresso devido à dificuldade, segundo ele, de comunicação. “Eu acho que nós temos um Congresso que precisa se comunicar melhor, que precisa melhor mostrar o seu trabalho, fundamental para que a democracia sobreviva e para que a gente possa avançar”, destacou.

Confira os principais pontos da entrevista:

A reforma administrativa em tramitação na Câmara vai mexer com a forma de contratação de funcionários. O governo é contra alguns pontos. Qual a condição desse projeto prosperar?
Fiz parte do grupo da reforma administrativa e assinei o projeto junto com o deputado Pedro Paulo. Tenho muita convicção de que esse projeto vai avançar. A vida se moderniza cotidianamente. Todos nós somos obrigados, todos os dias, a nos reciclar para viver em sociedade. E não pode ser de outra forma com as leis, com a organização da República, com o governo e com a sociedade. Da minha lavra, coloquei algo que é absolutamente fundamental para o país avançar que é o fato de que todo ato de governo precisa ser um ato digital. Ainda hoje o Brasil é um país analógico. É incompatível falar de inteligência artificial quando a gente tem um Estado analógico, a gente precisa digitalizar o Estado brasileiro. Eu acredito muito que a meritocracia vai ser implantada, que nós vamos ter assim, obviamente, um enfrentamento, mas que o governo vai chegar num nível de consenso grande com a proposta que nós estamos apresentando.

O senhor já conversou, por exemplo, com o presidente da Câmara, Hugo Mota, para pautar o projeto?
O presidente Hugo tem muito interesse que o projeto da reforma seja um projeto da sua administração. Portanto, eu acredito que ele fará todo o possível para pautar o quanto antes.

Como é que o senhor vê a questão dos impostos no Brasil? Houve uma crítica de que se estava mexendo pontualmente no Imposto de Renda e não tratando o assunto de uma forma ampla.
Nós aprovamos aquilo que será a redenção do Brasil que é um novo sistema tributário e isso acabou de ser aprovado no Senado. Aprovamos, na semana passada, na Câmara, a isenção do Imposto de Renda. Eu acho que essa proposta foi muito inteligente. O governo foi muito hábil, construiu algo que vai beneficiar 15,5 milhões de brasileiros e que receberam mais de 10% de aumento nos seus salários, porque não serão descontados daquele imposto que é retido na fonte. Isso vai fazer com que todo mundo tenha um benefício muito grande, permitindo que o salário seja equivalente a um décimo quarto salário. Votei com muita alegria nessa lei porque acho que, tendo na sua posse o recurso, o cidadão vai administrar muito melhor do que o Estado. E acho que nós fizemos o avanço possível, porque nós cobramos 10% a mais daqueles que ganham mais de R$ 1 milhão por ano, e essa conta fecha.

O Brasil tem um desafio muito grande da transição energética e em breve sedia a COP30 (Conferência do Clima da ONU). Em que caminhos para isso o senhor acredita?
Primeiro, o Brasil é um exemplo para o mundo em termos de qualidade, pureza e sustentabilidade no setor energético. Nós temos 85% da nossa energia verde, basicamente porque a nossa matriz é a hidráulica. Mas nos esquecemos de que a gente precisa ter potência na rede. Uma das fontes que eu defendo é a energia nuclear, que é a que mais se desenvolve no mundo. Ela está triplicando no mundo inteiro. E o Brasil, que já chegou a ter quase 5% da sua massa de energia gerada por energia nuclear, hoje tem apenas 1,5%, que é a geração de Angra 1 e 2. Nós temos 63% da usina de Angra 3 pronta e podemos terminá-la muito rapidamente, uma vez que, faltam só 37% da obra. É algo que eu não consigo entender por que o governo está demorando tanto a tomar a decisão de terminar. Serão necessários do orçamento nacional apenas R$ 2,8 bilhões que deveriam vir, inclusive, da Eletrobrás. Cada mês que a gente atrasa, a gente gasta R$100 milhões. Os funcionários de Angra 3 três já foram concursados e contratados e a gente tem que pagá-los porque eles estão lá, à disposição. A gente comprou os equipamentos e 70% deles estão armazenados, embalados a vácuo. Esses equipamentos têm um custo de manutenção. A gente tem toda uma estrutura para acabar a usina e isso não está sendo feito, o que é lamentável.

O Ministério do Meio Ambiente tem sido um entrave?
Eu, sinceramente, não acho não. O entrave é a Casa Civil, que vê com dificuldade a questão de assumir esse compromisso financeiro. Na realidade, é um equívoco, porque o compromisso financeiro virá e o BNDES já fez todos os cálculos e disse que a energia futura gerada pela usina paga com tranquilidade esse financiamento. Então, na realidade, falta é coragem de assumir esse financiamento com base na energia futura. Toda a Itaipu foi paga esse ano e nós deixamos de pagar mais de R$ 200 milhões por mês do financiamento internacional de Itaipu. Tem que ter organização e decisão para fazer a obra.

Uma pesquisa recente feita pela Quaest mostrou que congressistas têm pouca percepção das necessidades da população. O senhor já tem cinco mandatos. O que é que está acontecendo, na sua opinião?
A minha disposição de encontrar com o eleitor, de conversar com ele, de pedir o voto dele é enorme. Amo o que faço e sei que contribuo com o meu país e quero cada vez mais interagir com o meu eleitor e com o eleitorado para exatamente discutirmos novas possibilidades de um Brasil mais digital, mais igual. Tenho muita clareza desde a minha primeira eleição que eu jamais disse ao eleitor que eu faria por ele. Eu farei com ele. Na realidade, ninguém pode fazer mais pelo cidadão do que ele mesmo. Um bom político tem que ajudar, ter responsabilidade, ter companheirismo e saber responder a essas demandas. Então, eu tenho muita convicção de que a gente tem um regime importante a defender que é essa democracia que vive em processo de consolidação, mas que ela já está bastante firmada e oferece a oportunidade ao cidadão. Eu acho que nós temos um Congresso que precisa se comunicar melhor, que precisa melhor mostrar o seu trabalho, mas que é absolutamente fundamental para que a democracia sobreviva e para que a gente possa avançar.

O senhor votou a favor da “PEC da Blindagem”, bastante rejeitada pelas ruas. Como é que o senhor justifica esse voto?
No painel, nós temos três opções de voto: ou a gente vota não, ou a gente se abstém ou a gente vota sim. A gente não tem um voto graduado para fazer algo intermediário. Não é uma blindagem. Nós queremos construir uma forma em que o Congresso não esteja na mão da Justiça como está hoje. Na realidade, isso é um processo que precisa ser construído, que pode e deve ser trabalhado. Hoje há um desbalanceamento em favor da Justiça, em favor do STF (Supremo Tribunal Federal) e em desfavor do Congresso Nacional. Agora, por óbvio, eu jamais desejei ou pretendi blindagem alguma. Houve, efetivamente, um erro de narrativa. O governo foi oportuno, se aproveitou daquele momento, corretamente. A gente erra e acerta e eu não sou de fugir de responsabilidade. Votei, tenho a responsabilidade de ter votado, mas não acho que não foi o momento adequado nem a forma adequada.

O PP, seu partido, formou a Federação com União Brasil e aí deu um ultimato para os ministros deixarem o governo. Como o senhor vê essa decisão?
Quando o presidente Lula nomeou o André Fufuca, não o fez por causa do brilhantismo dele, nem foi a relação pessoal deles que o levou à condição de ministro. Ele e Celso Sabino foram levados a essa condição pelos partidos que os sustentaram e os indicaram. Se esses partidos agora saem do governo é razoável que pretendam que os seus filiados acompanhem. Eu não estou dizendo que a posição do ministro Fufuca, de quem eu gosto muito, é ruim, agora é razoável que o partido reivindique aquela posição em nome de tê-lo colocado lá e de tê-lo sustentado enquanto deputado. Há razão nas duas partes, e eu acho que essa discussão é sadia. Acho que os partidos têm sim o direito de desejar sair do governo e desejar que os seus filiados assim o façam. Agora, aquelas pessoas que ocupam aqueles cargos e que, por qualquer razão, julgam que assim devem permanecer, podem mudar de partido e podem procurar outro caminho. Isso é que é bonito na democracia.