COP-30: muito além do verde, araras, papagaios e outros bichos
A realização de grandes eventos no Brasil, antes, durante e depois sempre são recheadas de grandes doses de suspense, expectativas e ansiedades sobre o resultado final. Antes do evento rola a expectativa sobre o que pode dar certo, e o que sinaliza que pode dar errado. Durante o acontecimento o improviso resolve o inesperado e, ao final, entidades públicas e privadas se estapeiam comemorando vitória ou lamentando derrotas. De 10 a 21 de novembro próximo a cidade de Belém, capital do Estado Pará, vai sediar a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima (Conferência das Partes – COP30).
O evento vai reunir autoridades civis de mais de 40 países para discutir o futuro do planeta, numa pauta que aborda a vida dos oceanos, as alterações da natureza, a vida dos animais e seus ambientes. Também terá temas relacionados à emissão de gases do efeito estufa e à adaptação às mudanças do clima. No centro dos debates, a longa e eterna discussão sobre financiamentos e apoio financeiro dos países mais ricos às nações menos abastadas, e aquelas carentes de recursos técnicos e cuja mão de obra especializada simplesmente não existe.
A edição passada foi na cidade de Baku, no Azerbaijão, e recebeu críticas de toda ordem das entidades internacionais. O evento de agora acontece 30 anos depois da Rio-92, quando o Brasil reuniu o mundo preocupado com o meio ambiente, promovendo debates, seminários e dezenas de encontros entre as maiores autoridades que à época se debruçaram sobre essas questões.
Projetos foram incrementados mundo afora após o evento, outros ainda estão nas gavetas da burocracia diplomática, quase sempre mal humorada quando a pauta é o meio ambiente. O que se espera da COP30 é bem mais do que o romantismo habitual da contemplação das belezas naturais da selva amazônica, seu verde colossal e do desfilar das aves coloridas, encantos que de fato seduzem.
O que se espera da conferência é que, de fato e com atitudes, as nações participantes encarem os problemas que de alguma forma afetam o ar que respiramos. Que se disponham a tirar dos cofres cifras que possam ajudar países a combater a poluição, apoiar o agronegócio, instalar redes de esgoto em comunidades que se infectam contaminadas por águas podres e melhorias de ambientes insalubres, onde crianças e vermes ocupam o mesmo espaço.
A conferência será presidida pelo embaixador André Corrêa do Lago, que sem rodeios, e diante dos problemas que sabe terá que enfrentar, adianta que “será uma transição entre a diplomacia climática e a execução de políticas sustentáveis”.
Sabe o embaixador que, além dos problemas de ordem estrutural, como hospedagens, transporte, segurança, alimentação e mobilidade, a habitual “saia justa política” também exigirá dele um malabarismo institucional sem nenhum conforto. Para os menos atentos, basta lembrar os episódios recentes, envolvendo o Congresso Nacional e as medidas punitivas do Governo Lula, demitindo apadrinhados de políticos que votaram contra a recente MP emitida pelo governo.
A Ministra Marina Silva, autoridade mundial da Conferência, com certeza receberá estilhaços desse tiroteio. Otimista, o tocador de obra desse evento, o governador do Pará, Helder Barbalho, não esconde a euforia pelo sucesso do evento, com pragmatismo.
Tem o apoio da população, que segundo pesquisa recente deu a ele 82% de aceitação, manifestando concordância com um acontecimento que, além da projeção do estado no momento atual, indica benefícios que serão alcançados pós congresso. Para reforçar a estrutura do ambiente físico, as cifras aplicadas são elevadas. Trinta e oito obras estruturais estão em andamento, algumas em fase de conclusão.
Cálculos recentes apontam algo em torno de R$ 980 milhões destinados, e sendo gastos na construção ou reparos de diversas unidades que serão utilizadas. A escolha do estado paraense, no coração da Amazônia, teve a aprovação da maioria das nações convidadas, algumas com reclamações pontuais sobre preços elevados por estadia, refeições e mobilidade.
Em reunião recente, numa prévia, ou ensaio como alguns chamaram o evento, o governo federal e entidades privadas fizeram ajustes finais e projetaram problemas e possíveis soluções, caso a caso. Devido ao universo esperado de visitantes e convidados, difícil não se preparar para o chamado plano B, caso algo não saia exatamente como o esperado. Mesmo porque, se assim fosse, não seria no Brasil. O mundo espera bons resultados, os brasileiros também.
José Natal é jornalista com passagem por grandes veículos de comunicação como Correio Braziliense, TV Brasília e TV Globo, onde foi diretor de redação, em Brasília, por quase 30 anos. Especializado em política, atuou como assessor de imprensa de parlamentares e ministros de Estado e, ainda, em campanhas eleitorais
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