Protagonista da crise dos green bonds da Ambipar, o ex-CFO da companhia João Arruda tem uma relação de amizade próxima com um alto executivo do Deutsche Bank no Brasil. O declínio da Ambipar no mercado foi deflagrado em 18 de agosto de 2025, quando a empresa assinou exatamente com o Deustche Bank um aditivo que alterou as condições de garantia da emissão de US$ 750 milhões em green bonds da companhia, feita em fevereiro de 2024, com vencimento em 2031.
A nova estrutura, conhecida como PIK (Payment-in-Kind), vinculou o derivativo ao desempenho dos próprios bonds no mercado secundário.
A amizade de Arruda com esse executivo do Deutsche Bank no Brasil remete aos tempos em que ambos trabalharam no Bank of America (BofA). João Arruda, que passou 14 anos e 5 meses no banco, saiu de lá para assumir como CFO da Ambipar em agosto de 2024. O amigo, que atuou por pouco mais de três anos no BofA, foi contratado pelo Deutsche em setembro de 2024.
Enquanto era diretor do BofA, João Arruda sugeriu que a Ambipar contratasse um derivativo de swap junto ao próprio banco, protegendo 100% da emissão contra variações cambiais. Assim, a dívida em dólar foi transformada em uma obrigação em reais, acrescida de taxas.
Esse tipo de contrato funciona como um seguro: a companhia não fica exposta às oscilações do dólar, alinhando a dívida ao fluxo de caixa em reais.
Em fevereiro de 2025, veio a segunda emissão de green bonds e a reestruturação capitaneada por João Arruda junto ao Deutsche Bank. A Ambipar voltou ao mercado e captou US$ 493 milhões, com vencimento em 2033. Parte desse valor — US$ 200 milhões — foi destinado ao pré-pagamento da primeira emissão. Na prática, a empresa passou a carregar duas dívidas: US$ 550 milhões com vencimento em 2031 e US$ 493 milhões com vencimento em 2033.
Nesse momento, Arruda transferiu o swap da primeira emissão do Bank of America para o Deutsche Bank. Além disso, contratou um novo swap para a segunda captação.
O PIK bond assinado com o Deutsche passou a exigir que a Ambipar depositasse garantias adicionais sempre que houvesse queda no preço dos papéis. O mecanismo, que deveria proteger a operação, acabou amplificando os riscos diante da desvalorização dos títulos.
Poucas semanas após a mudança, os bonds internacionais da Ambipar, suas debêntures locais e as ações negociadas na Bolsa de Nova York e na B3 sofreram forte desvalorização.
O quadro se agravou em 19 de setembro, quando João Arruda renunciou ao cargo de CFO. A saída levou ao cancelamento de reuniões com investidores que haviam sido marcadas pelo próprio executivo para os dias seguintes, e a uma nuvem de desconfiança sobre as coincidências dos números.
O resultado foi uma espiral de desconfiança: a queda das cotações gerava chamadas de margem, que pressionavam ainda mais o caixa da empresa e aprofundavam a desvalorização dos papéis.