JACARTA – O presidente Lula está, de novo, investido de sua versão caixeiro-viajante. No início da manhã desta quarta-feira, 22, em Brasília – já noite na Ásia –, ele desembarcou em Jacarta, capital da Indonésia, para mais um giro pela região com a missão principal de ampliar as exportações de produtos brasileiros para um mercado que há anos está em franca expansão.
Entre os vários itens da pauta está, outra vez, a tentativa de destravar a venda de carnes, que ainda sofre restrições de países como a própria Indonésia. Como parte dessa tarefa, devem se juntar à comitiva presidencial os irmãos Joesley e Wesley Batista, controladores da gigante JBS. A dupla está em Bangcoc, na Tailândia, e é esperada nas próximas horas em Jacarta, onde cerca de 100 empresários brasileiros de diferentes setores se encontrarão com o próprio Lula e com representantes de empresas e do governo da Indonésia.
Na manhã desta quinta-feira, 23, em Jacarta, noite no Brasil, Lula será recebido com pompa pelo presidente indonésio, Prabowo Subianto, no palácio do governo local. Na visita de Estado, ele passará tropas em revista, escoltado por cavalos das Forças Armadas indonésias. Ainda em Jacarta, o presidente visita o escritório central da Asean, a Associação das Nações do Sudeste Asiático, e discursa no encerramento do encontro empresarial que terá os irmãos Batista como protagonistas.
A Indonésia já é um dos principais parceiros comerciais do Brasil, mas o governo acredita que há margem para ampliar os números, especialmente neste momento em que vários países do mundo estão sendo obrigados a rever suas prioridades no comércio exterior em razão das tarifas impostas pelo governo de Donald Trump.
Recentemente, a Indonésia deu sinal verde para um conjunto de frigoríficos brasileiros exportar carne para o país, mas ainda há pendências importantes que impedem a ampliação das vendas. Gigantes brasileiros do setor estão de olho, especialmente, em um programa do governo de Prabowo Subianto para a inclusão de proteínas na merenda escolar de estudantes de escolas públicas ao redor do território indonésio, espalhado em um arquipélago de mais de 10 mil ilhas. Estima-se que, apenas nesse programa, a gestão Subianto investirá a impressionante cifra de 38 milhões de dólares por dia.
Encontro com Trump
Donald Trump, por sinal, é também um personagem que já se tornou parte integrante da história desta visita de Lula à Ásia. Isso porque, na segunda parte do périplo de Lula, na vizinha Malásia, há chances concretas de ocorrer finalmente a primeira reunião bilateral dele com o presidente norte-americano – recentemente, na ONU, os dois se falaram rapidamente, se abraçaram e combinaram de marcar um encontro.
Tanto Lula quanto Trump participarão em Kuala Lumpur, a capital malaia, como convidados especiais da 47ª reunião de cúpula dos dez países do sudeste asiático que integram a Asean.
As tratativas entre Brasília e Washington para que o encontro de Lula com Trump finalmente aconteça estão avançadas. Do lado brasileiro, há grande expectativa pela confirmação, mas o Palácio do Planalto e o Itamaraty ainda adotam cautela para evitar que, caso a reunião não ocorra, o assunto acabe eclipsando o que houver de positivo na viagem – nesse caso, o Planalto teria de lidar com a narrativa de que Lula tomou um bolo do colega norte-americano.
Auxiliares do governo trabalham para que a reunião bilateral aconteça no domingo, 26. No mesmo dia, Lula já tem confirmado um encontro com o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, outro convidado especial da cúpula da Asean.
Ainda na Malásia, o presidente brasileiro discursará no encontro dos países do sudeste asiático e se reunirá com o primeiro-ministro do país, Anwar Ibrahim, com quem compartilha posições semelhantes sobre temas da política internacional, como as guerra na Ucrânia e na Palestina.
Esta é a quarta grande viagem de Lula à Ásia no atual mandato. Em outras, como a que teve como destino o Japão e o Vietnã, tratativas para derrubar travas impostas à exportação de carne brasileira também estiveram no centro da pauta. Em uma das visitas à China, no ano retrasado, o presidente também contou com os irmãos Batista na comitiva.
Acordado no avião
Entre o embarque em Brasília na manhã de segunda-feira, 20, e a chegada a Jacarta, Lula passou 22 horas dentro do avião. Desta vez, a viagem não foi feita no chamado Aerolula, a mais conhecida aeronave da frota presidencial. Em razão da distância, o Planalto optou por utilizar o Airbus 330 da Força Aérea Brasileira que já serviu ao presidente em outras oportunidades. Houve uma escala para reabastecimento em Joanesburgo, na África do Sul.
Ao PlatôBR, auxiliares do presidente disseram que ele passou o tempo todo acordado, de Brasília a Jacarta, conversando com os ministros que o acompanham e foram convidados a dividir a cabine privativa da aeronave. Integram a comitiva os ministros Mauro Vieira (Relações Exteriores), Carlos Fávaro (Agricultura e Pecuária), Alexandre Silveira (Minas e Energia) e Luciana Santos (Ciência, Tecnologia e Inovação), além do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo. O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, se juntará ao grupo em Kuala Lumpur.