A vida pública de Francisca Gomes Araújo Motta (Republicanos), deputada estadual na Paraíba e avó do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), começou logo depois da morte do marido, Edivaldo Fernandes Motta, em 1992. Ele era um dos mais proeminentes políticos de Patos (PB). Elegeu-se duas vezes deputado federal e participou da Assembleia Nacional Constituinte.

Depois da morte de Edivaldo, ela exerceu um mandato de vice-prefeita de Patos, um de prefeita, e seis mandatos de deputada estadual. Agora, com 84 anos, ela avisou às pessoas mais próximas que não pretende mais se candidatar, quer transferir sua herança política para a neta, Olívia, irmã de Hugo, que deverá concorrer em 2026 à Assembleia Legislativa. Desde 2018, quando Hugo assumiu o controle do Republicanos, a família saiu do MDB e o acompanhou na nova sigla.

A carreira pública de Francisca começou logo depois da perda do marido. Edivaldo morreu de ataque cardíaco, enquanto participava de uma vaquejada no município de São José dos Espinharas, no semiárido paraibano. Tinha 53 anos e exercia o segundo mandato na Câmara.

Até aquele momento, a mulher nascida em Catolé do Rocha, em 18 maio de 1941, era uma figura forte na família, mas sempre nos bastidores da carreira do marido. Acompanhava a política desde que se casou aos 17 anos com Edivaldo, filho de empresários da construção civil da região de Patos.

“Santinhos”
Em 1992, antes de ficar viúva, Francisca resistia à pressão do marido, que queria vê-la candidata a vice-prefeita na do PMDB, encabeçada pelo médico Ivânio Ramalho. Ela costumava dizer que “não havia força humana” que a faria entrar na política, sempre dominada por homens na região. Foi grande a surpresa uma dia ao chegar em casa, no período de luto, e ver os “santinhos” que o marido havia mandado confeccionar com seu nome figurando como vice.

Ela ainda não tinha dado o consentimento para ele sobre a candidatura, mas aceitou o desafio naquele momento. A chapa foi eleita e Francisca tomou posse no dia 1º de janeiro do ano seguinte, como vice-prefeita do município. Desde então, Francisca tomou gosto pelo poder se elegendo, no ano seguinte, deputada estadual. Foram, a partir daí, seis mandatos como deputada estadual, interrompidos uma vez por um mandato como prefeita de Patos, entre 2013 e 2016. 

Ao chegar a Patos, com 10 anos, Francisca foi morar na casa de parentes para estudar. Quando se casou, porém, parou com os estudos e só concluiu o fundamental, mais tarde, em cursos supletivos. Depois, na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), se graduou em História e Pedagogia.

Hoje, ela diz que entrou na política por “força divina”. Católica, a deputada é devota de Nossa Senhora e da Menina Francisca de Patos, uma “santinha” nordestina, dessas às quais a população atribui milagres e faz peregrinações em busca de graça. Trata-se de uma menina que foi encontrada morta na Fazenda Trapiá, na zona rural de Patos. 

Afastamento
Na carreira vitoriosa, Francisca viveu um episódio sobre o qual não costuma comentar. Em 2016, ela foi afastada do cargo de prefeita de Patos, acusada de ser a chefe de uma organização investigada por fraude em licitações e superfaturamento de contratos em serviços de locação de veículos, realizados pelas prefeituras de Patos, Emas (PB) e São José de Espinharas PB).

Ilana, mãe de Hugo Motta, era chefe de gabinete da mãe na Prefeitura de Patos e foi presa preventivamente na força-tarefa composta pelo MPF (Ministério Público Federal), pela Polícia Federal e pela CGU (Controladoria Geral da República). As acusações se referiam a um desvio de mais de R$ 11 milhões de recursos de ações dos programas de Transporte Escolar, Fundeb, Pró-Jovem Trabalhador e no pagamento de serviços de saúde de média e alta complexidade.

Em 2021, a Justiça Federal absolveu Francisca e os demais réus por falta de provas. “Ela não fala sobre o assunto, mas a família se refere a esse momento como uma grande injustiça, assim como ocorreu com o presidente Lula”, disse uma pessoa próxima, referindo-se à prisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pela Lava Jato. 

Admiração por Lula
A referência a Lula não fica por aí. Francisca é admiradora do presidente há décadas, expectadora da trajetória política do petista desde que ele se elegeu presidente da República pela primeira vez, em 2002. Quando Hugo teve seu primeiro encontro com Lula, após ser eleito presidente da Câmara, levou a avó ao Planalto e, na ocasião, ela lembrou as alianças feitas com o PT da Paraíba.

Quando ela foi eleita prefeita, em 2012, o vice na chapa era Lenildo Morais (PT), que acabou assumindo o município quando ela foi afastada. Morais atualmente é diretor-executivo da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).