Tanto o Palácio do Planalto quanto o governo do Rio de Janeiro divulgaram versões de que a megaoperação policial que terminou com 64 mortes não seria politizada. Na prática, as ações contra a facção criminosa Comando Vermelho nesta terça-feira, 28, terão repercussão direta nas eleições de 2026.
A segurança pública é um dos assuntos com maior potencial de polarização na disputa eleitoral do ano que vem. Do lado da oposição, a defesa do enfrentamento violento à criminalidade segue a cartilha da direita, colocada em prática, por exemplo, pelos governadores de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), e de São Paulo, Tarcísio de Freitas, com frequentes operações letais, às vezes com dezenas de mortos. Pelo lado do Planalto, a esquerda ainda patina no discurso de combate ao crime, sem apresentar experiências exitosas nessa área que possam servir de propaganda eleitoral.
Nesse embate, o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), comandou a operação que provocou a matança e ainda acusou em entrevistas o governo federal de se omitir diante de pedidos de uso de blindados da Forças Armadas nas ações contra o Comando Vermelho. O ministro Ricardo Lewandowski (Justiça) rebateu dizendo que nada foi solicitado.
Para discutir a estratégia do Planalto, o presidente em exercício, Geraldo Alckmin, convocou uma reunião de emergência com os ministros Rui Costa (Casa Civil), Gleisi Hoffman (Relações Institucionais), Macaê Evaristo (Direitos Humanos), Jorge Messias (AGU), e representantes do Exército, do Ministério da Justiça e da Polícia Federal. Lewandowski participou por telefone.
Em acordo com Castro, o governo federal decidiu enviar ao Rio de Janeiro uma comitiva formada por Rui Costa, Lewandowski e pelo o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, para discutir uma reação conjunta à crise de segurança pública. Para os dois lados, esse movimento pode ser usado, no futuro, para atenuar as críticas sobre a politização do tema.
O confronto em relação a esse assunto fica nítido, por exemplo, na discussão da PEC da Segurança, apresentada por Lewandowski e rejeitada por parte dos governadores da oposição, que se empenham em mostrar o governo federal e as administrações estaduais da esquerda como omissas ou incompetentes.
No Congresso, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), também se mobilizou para pautar urgências de projetos que tratam de questões ligadas ao tema. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), levou ao plenário um projeto que altera dispositivos do Código de Processo Penal para mudar as regras das audiências de custódia, além de prever a coleta de material genético dos detidos suspeitos de integrar organizações criminosas, texto de autoria do ex-senador Flávio Dino, hoje ministro do STF (Supremo Tribunal Federal).
O Planalto sabe que, até o momento, os acertos na comunicação e na condução de grandes temas contribuíram para levantar a imagem do governo e de Lula. Mas entende também que qualquer deslize nesse assunto pode afetar drasticamente a imagem dos candidatos petistas em 2026.
