A disputa política em torno da operação policial contra a facção Comando Vermelho no Rio de Janeiro chega ao final da semana reforçada por ações promovidas pelo Palácio do Planalto e pelo governo fluminense. O assunto dominou as redes e as discussões políticas ao ponto de deixar em segundo plano temas tratados como prioritários pelo presidente Lula, como as negociações das tarifas com os Estados Unidos, o pacote fiscal defendido pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda) e a indicação do substituto de Luís Roberto Barroso no STF.
Como resultado, o presidente perdeu o protagonismo no noticiário para a oposição na semana em que o Planalto comemorava o encontro entre Lula e Trump. A cena política mais marcante desta quinta-feira, 30, foi o apoio levado pelos governadores de direita a Cláudio Castro, chefe do executivo do Rio de Janeiro, responsável pela operação que provocou a morte de mais de 120 pessoas, entre elas quatro policiais.
Liderados pelo governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), eles anunciaram a criação de um “consórcio da paz”, espécie de associação independente do governo federal, que servirá para o compartilhamento de ajuda, inclusive com transferência de efetivos para operações semelhantes. Participaram do encontro, além de Caiado, os governadores Jorginho Mello (PL), de Santa Catarina, Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, Eduardo Riedel (PP), de Mato Grosso do Sul, e Celina Leão (PP), vice-governadora do Distrito Federal. Tarcísio de Freitas (Republicanos) acompanhou de forma remota.
“Dentre o que conversamos aqui, uma proposta clara: a criação no âmbito dos estados, segundo o governador Jorginho, do consórcio da paz. Um consórcio entre estados, no modelo de outros consórcios que existem, para que possamos dividir a experiência, soluções e ações de combate ao crime organizado para que possamos compartilhar ajuda”, disse Castro.
Do governo federal, viajaram para o Rio de Janeiro os ministros Ricardo Lewandowski (Justiça e Segurança Pública), Macaé Evaristo (Direitos Humanos), Anielle Franco (Igualdade Racial), e o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues. Lewandowski se reuniu com o governador e, juntos, eles anunciaram a criação de um escritório emergencial de combate ao crime organizado. O objetivo da iniciativa, segundo explicaram, é promover ações integradas de segurança e compartilhar informações.
Peritos criminais
Lewandowski disse também que a Polícia Federal vai abrir um “inquérito macro” para investigar a atuação das facções criminosas, atendendo a uma determinação feita pelo STF (Supremo Tribunal Federal), no âmbito ação que investiga a letalidade policial e define regras para operações da polícia em comunidades. Lewandowski também anunciou o envio de 20 peritos criminais da PF, além de 10 a 20 peritos da Força Nacional para apoiar o estado.
A depender da análise do caso, segundo o ministro, o contingente poderá ser aumentado para ajudar as forças estaduais em áreas como análise dos locais de crimes, balística, genética forense para identificação de DNA, medicina legal, exames de balística, necrópsia e identificação de corpos.
Em contraste com falas do governador em defesa da operação, a ministra Macaé Evaristo classificou a ação policial de “um fracasso” e prometeu uma “perícia independente” nos corpos retirados da mata por moradores. “A gente teve uma demanda da comunidade de estabelecer a perícia independente e autônoma. Nosso Conselho Nacional de Direitos Humanos já nos comunicou sobre isso e estamos trabalhando para que isso se efetive”, disse a ministra em entrevista coletiva, após conversar com moradores.
 
 
 
 
 
