A resiliência do mercado de trabalho — que continua a criar empregos com carteira assinada mesmo com a desaceleração da economia — adicionou mais uma pressão para que o Banco Central não inicie o ciclo de corte de juros. O Copom (Comitê de Política Monetária) se reunirá na próxima quarta-feira, 5, e deve manter a Selic inalterada em 15% ao ano.
A criação de empregos pressiona a inflação porque adiciona mais dinheiro na economia. Com mais recursos em circulação não há incentivo para a redução do preços. Nem os constantes apelos públicos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, pela redução de juros, devem levar os diretores do BC a mudar o tom do discurso que tem sinalizado que a taxa ficará inalterada, pelo menos até o início de 2026.
A “ajudinha” da Petrobras com a redução no preço da gasolina, que pode levar a inflação para o teto da meta em 2025, também não deve ser suficiente para sensibilizar os membros do Copom.
Em discurso recente, durante apresentação no Fórum Econômico Indonésia-Brasil, em Jacarta, o presidente do BC, Gabriel Galípolo, afirmou que a autoridade monetária está “bastante incomodada” com a inflação no Brasil e as expectativas fora da meta, e reforçou a política monetária restritiva por um período prolongado.
“A inflação e as expectativas seguem fora do que é a meta, isso é um ponto de bastante incômodo para o Banco Central, mas estamos falando de uma inflação que está num processo de redução e retorno para a meta em função de um Banco Central que vem se mostrando sempre bastante diligente e tempestivo no combate a qualquer tipo de processo inflacionário”, disse.
No mercado, as apostas são de que os juros terminarão o ano em 15%. A dúvida é quando o processo de queda começará — em janeiro, março ou na reunião seguinte — e o tamanho do ciclo de cortes. As apostas têm variado entre 12,75% e 11,75%.
Expectativas do mercado
A economista Iana Ferrão, do BTG Pactual, projetou que os juros permanecerão em 15% até o fim de 2025, que o início dos cortes se dará em janeiro de 2026 e que a taxa terminará o ano que vem em 12%.
“A combinação de atividade em desaceleração com desinflação dos componentes mais inerciais deve conferir ao Copom grau de convicção suficiente para iniciar o ciclo de afrouxamento em janeiro de 2026”, escreveu em relatório aos clientes.
O economista Júlio Barros, do banco Daycoval, afirmou que a principal dúvida no mercado para a reunião do Copom é se o colegiado manterá no comunicado após a reunião o trecho que afirma que retomará o ciclo de alta de juros se for necessário.
“Entendemos que esse trecho poderá ser retirado, deixando as portas abertas para o início do ciclo de corte de juros no início do próximo ano. Caso contrário, se esse trecho for mantido, a probabilidade do início do ciclo de cortes ser mais à frente deve aumentar”, disse.
