As polícias mataram 4.068 pessoas em 2024 em nove estados brasileiros. Desse total, 3.066 vítimas eram negras — o equivalente a 86,2% dos casos. Os dados são da sexta edição do relatório Pele Alvo: crônicas de dor e luta, da Rede de Observatórios da Segurança, que será lançado nesta quinta-feira, 6. Em média, 11 pessoas foram mortas por dia, e negros têm 4,2 vezes mais chances de morrer em ações policiais do que brancos.
A Bahia segue como o estado com a polícia mais letal: 1.556 mortes em 2024, com negros tendo seis vezes mais chances de serem mortos que brancos. No Rio de Janeiro, foram 546 vítimas, e a probabilidade de um negro ser morto é 4,5 vezes maior. O Ceará teve 189 mortes — o maior número desde 2019 —, sendo 79,3% de pessoas negras.
Em São Paulo, as mortes pela polícia subiram 59,2%, passando de 193 em 2023 para 307 em 2024, o maior aumento entre os nove estados monitorados.
No Maranhão, as 125 mortes causadas por policiais marcaram um aumento de 22,6% em relação a 2023. O Pará registrou 583 vítimas, o que equivale a uma morte a cada 15 horas, e nove municípios concentraram 51,9% desses casos.
Em Pernambuco, 92,6% das 299 vítimas eram negras; no Piauí, todas as 25 vítimas eram homens, e 80% das mortes foram provocadas pela Polícia Militar. No Amazonas, 90% das 43 vítimas eram negras, com 67,4% entre 18 e 29 anos.
O estudo mostra ainda que jovens de 18 a 29 anos foram 57,1% das vítimas, somando 2.324 casos. Crianças e adolescentes (12 a 17 anos) representaram 297 mortes, além de uma vítima de 0 a 11 anos. Em 512 registros, a raça ou cor não foi informada — uma em cada oito mortes.
Apesar de uma redução de 4,4% nas mortes por intervenção policial no período de seis anos (2019–2024), o relatório afirma que a cor da pele continua sendo o principal fator determinante da violência de Estado. “O Brasil repete a mesma tragédia: o Estado mata com base em critérios raciais. Não é desvio, é padrão”, resume Jonas Pacheco, coordenador da pesquisa.
A rede de Observatórios de Segurança Pública defende um pacto nacional pela vida, com metas e responsabilização institucional. Além disso, faz recomendações como o uso obrigatório de câmeras corporais, transparência total dos dados, atenção à saúde mental de policiais e reparação às famílias de vítimas de abuso.
A pesquisa considerou apenas os nove estados que têm parceria firmada com o Observatório na divulgação e organização dos dados.
