Demorou sete anos, mas a estudante de Direito Mariana Ferrer, 28, conseguiu, enfim, falar sobre o estupro que sofreu em dezembro de 2018, no Café de La Music, em Florianópolis. Nessa terça-feira, 11, ao lado da modelo Luiza Brunet, Mari Ferrer se dirigiu a uma plateia de juízes e promotores no Fonavid (Fórum Nacional de Juízas e Juízes da Violência Doméstica), em São Luís.
A estudante de Direito contou aos participantes do encontro que não sabia quem era seu agressor. “Quando você desconhece o agressor, como foi o meu caso, o caso vai para a vara de crime comum; você não tem a proteção da vara de violência doméstica”, afirmou, defendendo o aprimoramento da Lei Maria da Penha para acolher esse tipo de vítima.
O homem identificado pela polícia e acusado do crime é André de Camargo Aranha, dono de uma empresa de eventos esportivos. Em 2020, Aranha foi absolvido em uma sessão que, conforme revelou a jornalista Schirlei Alves, submeteu a vítima a tratamento desumano. O então advogado de Aranha, Cláudio Gastão da Rosa Filho, humilhou Mari Ferrer ante o promotor e o juiz do caso, que não tomaram providências. Em 2023, o Conselho Nacional de Justiça puniu o juiz Rudson Marcos com uma advertência.
O caso ganhou tanta repercussão que o Congresso criou uma lei para amparar, durante os julgamentos, as vítimas de estupro. A lei ganhou o nome de Mariana Ferrer.
“A violência sexual descaracteriza tanto a mulher — é vergonhoso para mim falar isso—, mas ficou até parecendo que eu tinha mau cheiro”, disse Mariana. Ela explicou que o réu tentou desqualificá-la usando declaração da mãe dela, segundo a qual “suas roupas estavam encharcadas de sangue e tinham um forte odor de esperma”.
Mari Ferrer disse no Fonavid que só se deu conta de que tinha sido estuprada quando estava na delegacia e havia passado o efeito das drogas administradas a ela. No local, ela começou a sentir dores fortes e não conseguiu urinar.
“Fiquei por quase 30 dias tendo de tomar um monte de remédios para profilaxia. Eu tinha tanto medo de pegar uma doença que eu engoli meu próprio vômito”, contou ela, afirmando que, pelo trauma, não conseguia receber o toque nem mesmo de seu pai.
A estudante de direito, que se forma no final deste ano, apontou tratamento desigual entre vítimas e agressores. O advogado de Aranha a acusou de buscar autopromoção com o caso: “Quem vai a uma delegacia para ganhar dinheiro? Que mulher vai para uma delegacia, para o IML, para ganhar dinheiro? Em contrapartida, os acusados, os réus, os agressores, continuam com as suas carreiras intactas, eles continuam com tudo. E as vítimas ficam na sarjeta da sociedade.”
Hoje, Mari Ferrar tenta anular o julgamento que resultou na absolvição de Aranha, com base em erros processuais cometidos durante a sessão. O caso está no STF. “Precisamos falar sobre consentimento. Não é ‘não é não’. É falar sim expressamente. Se a vítima não está falando sim expressamente, é estupro.”
No mesmo fórum, Luiza Brunet falou sobre a violência que sofreu do ex-marido, o empresário Lírio Parisotto. Desde o ocorrido, em 2016, a modelo tem viajado pelo Brasil e o mundo para dar voz às vítimas.
