A firme reação da Polícia Federal às propostas de Guilherme Derrite no PL Antifacção, que enfraqueciam a corporação, colocou a Câmara em uma posição delicada. As críticas de Andrei Rodrigues, diretor-geral da PF, externaram aos deputados as insatisfações de uma instituição que, afinal, tem a prerrogativa de investigá-los criminalmente.

Deste modo, além de encarar o ônus da repercussão negativa junto à opinião pública pela tentativa de enfraquecer a PF, detectada nas redes socais nos últimos dias, a Câmara também teria de decidir se levaria à frente ideias tão contrárias a uma corporação com tamanha influência. Não levará.

Em meio às críticas, não tardaram os recuos de Derrite, no início da semana. Após Hugo Motta intermediar uma conversa entre Rodrigues e o relator, o deputado do PP, secretário licenciado de Segurança Pública de São Paulo, voltou atrás em propostas como condicionar a participação da PF em investigações sobre facções a pedidos de governadores.

Depois da modulação inicial no texto sobre o papel da PF, agora sob críticas também do bolsonarismo e da direita, Guilherme Derrite segue em tratativas sobre a corporação. O governo tem pressionado o relator a retomar trechos da versão original do PL Antifacção, elaborada pelo Ministério da Justiça.

Na versão mais recente do projeto de lei, a quarta até agora, Derrite cedeu diante de mais uma demanda do governo, desta vez a respeito do financiamento da Polícia Federal.

O relator incluiu a destinação para a PF de bens de facções criminosas investigadas em nível federal. Esses bens apreendidos, que antes iriam integralmente para os estados em investigações estaduais ou federais, agora serão destinados ao Fundo Para Aparelhamento e Operacionalização das Atividades-Fim da Polícia Federal (Funapol) quando a apuração for da PF.

Como mostrou a coluna, um levantamento da agência Ativaweb que monitorou as redes sociais durante 30 horas, a partir da tarde de terça, constatou a favor da PF um engajamento e um apoio inéditos a um órgão público. De 3,13 milhões de menções sobre o texto nesse período, a corporação teve 78% de menções positivas, contra apenas 1,6% de negativas.

Nas redes pesquisadas pelo estudo, os termos que dominaram foram “Não mexam na PF”, “A Polícia Federal é a última fronteira contra o crime organizado”, “Tirar poder da PF é enfraquecer o Brasil” e “A PF é patrimônio nacional”.

A Ativaweb constatou como pontos de inflexão no debate digital as notas oficiais da PF e da Receita Federal a respeito do PL Antifacção e as entrevistas de Andrei Rodrigues a canais de televisão.