A autorização do ministro STF (Supremo Tribunal Federal), Alexandre de Moraes para que Jair Bolsonaro, em prisão domiciliar em Brasília, receba o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), no próximo dia 10 reativou a disputa silenciosa na direita sobre 2026. O pedido partiu do próprio ex-presidente, que enviou ao STF uma lista de nomes com quem deseja se reunir.

No Congresso, porém, aliados tentam esfriar a leitura de que a visita abriria uma definição antecipada sobre a disputa presidencial. O líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcanti (RJ), afirma que “a decisão é do presidente Bolsonaro” e que o partido segue trabalhando para viabilizar sua candidatura. Na avaliação dele, se Bolsonaro não puder concorrer, a tendência é que indique Tarcísio, mas só no ano que vem. “É cedo para tomar qualquer decisão, acredito que só em março”, disse ao PlatôBR.

Sóstenes também ecoa a estratégia que parte do PL tem repetido nos últimos meses: reforçar a pressão por uma anistia ampla que reverta as restrições impostas pelo STF. “Vamos continuar lutando por Bolsonaro”, disse o deputado, que evita tratar Tarcísio como plano concreto neste momento.

Nos bastidores, o clima descrito é de normalidade. Um interlocutor próximo a Tarcísio reconhece que as pesquisas recentes provocaram “alvoroço” na última semana, mas afirma que isso não resultou em mudanças internas. “Tarcísio segue o mesmo ritmo de trabalho, nada de diferente no dia a dia”, diz. Para esse grupo, a definição do PL não virá agora e também depende exclusivamente de Bolsonaro.

A pesquisa Quaest divulgada na quinta-feira, 13, explica parte desse burburinho. O levantamento mostra que 24% dos entrevistados apontam como melhor para o país a vitória de um nome que não seja ligado a Lula nem a Bolsonaro. Lula aparece com 23%, enquanto 17% preferem alguém de fora da política. Outros 15% dizem que o ideal seria Bolsonaro voltar a ser elegível e vencer, 11% citam “alguém apoiado por Bolsonaro” e 5% mencionam “alguém apoiado por Lula”.

Uma fonte próxima ao PL afirma que, nos bastidores, o assunto que realmente tomou conta das conversas nesta semana foi Tarcísio. A mesma fonte comenta que chegou a circular, de forma bem lateral, a ideia de que Tarcísio, Ronaldo Caiado (União) e Romeu Zema (Novo) poderiam entrar no primeiro turno para espalhar o jogo e depois se unir no segundo. Ainda assim, essa possibilidade não foi a que ganhou tração: o foco interno acabou se voltando para Bolsonaro e para a expectativa em torno da visita do dia 10.

A família
Outra possibilidade vista como remota, mas nunca totalmente descartada no entorno bolsonarista, é a de Bolsonaro apontar alguém da própria família caso permaneça inelegível, cenário que hoje só se reverteria com uma decisão improvável do Judiciário. Michelle Bolsonaro costuma aparecer nesse tipo de especulação por causa da projeção que ganhou nos últimos anos e do apelo junto ao núcleo mais fiel do bolsonarismo. Flávio e Eduardo também são lembrados em algumas conversas, embora enfrentem maior resistência política e desgaste acumulado. Mesmo assim, essa hipótese circula mais por inércia do debate do que por qualquer movimento concreto.