MIAMI – Condenado pelo STF no julgamento da tentativa de golpe e sob risco iminente de ser mandado para a cadeia, o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) está longe de Brasília e do Brasil. Neste exato momento, o deputado está fora do alcance da caneta de Alexandre de Moraes — mais precisamente, em Miami, nos Estados Unidos. O PlatôBR localizou Ramagem nesta quarta-feira, 19, em um condomínio de luxo em North Miami, para onde foi com a família.
Ele pediu uma licença de 30 dias para tratamento de saúde à Câmara em setembro, e a renovou em 13 de outubro. A licença vale até 12 de dezembro. O Supremo já rejeitou os recursos do deputado e dos demais condenados pela trama golpista, incluindo Jair Bolsonaro, e é possível que o início do cumprimento das penas seja determinado por Moraes já nas próximas semanas. Na manhã desta quarta, ao ser localizado pela coluna, o deputado estava ao lado da mulher, Rebeca Ramagem. Os dois vestiam roupas esportivas e estavam a caminho da academia do complexo (veja imagens na galeria).
O condomínio onde Alexandre Ramagem está em Miami, o Solé Mia, tem acesso direto para uma piscina artificial do tamanho de dois campos de futebol. Cercada por areia e palmeiras, a “laguna” é preenchida com água cristalina, imitando uma praia caribenha, com oferta de atividades náuticas, como caiaque e stand up paddle. Há, ainda, várias quadras esportivas, playground, áreas para piquenique, estúdio de ioga, pista de cooper, trilhas para caminhadas e spa.
O complexo é formado por dois prédios de 17 andares, com varandas amplas, construídas em linhas curvas sobre a fachada e vista livre para a costa. O aluguel de um apartamento simples no local custa, em média, R$ 2 mil a diária.
O ponto escolhido pelo deputado federal é um bairro recente, em expansão, com novos empreendimentos sendo erguidos ano a ano. Os moradores da região são, em sua maioria, famílias ricas da América Latina, inclusive muitos brasileiros. Num clube anexo ao Solé Mia, os moradores costumam se reunir para papear, beber e jogar padel, uma mistura de beach tênis e squash.
Durante a ação penal da tentativa de golpe, Alexandre de Moraes determinou a entrega dos passaportes dos réus. Não há no processo nenhuma manifestação pública devolvendo os passaportes a eles. Moraes foi procurado para informar se Ramagem poderia ter deixado o país, mas não respondeu à coluna.
A coluna tentou contato com Alexandre Ramagem por meio de ligações telefônicas na tarde desta quarta-feira, mas não foi atendida.
Condenado por três crimes
Alexandre Ramagem foi condenado pelo STF em setembro a 16 anos, 1 mês e 15 dias de prisão pelos crimes de organização criminosa, abolição violenta do Estado democrático de direito e golpe de Estado. A ação penal contra ele por crimes de dano qualificado contra o patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado foi suspensa pela Câmara. Além da pena de prisão, a ser cumprida inicialmente em regime fechado, o STF determinou que Ramagem perca o mandato parlamentar e o cargo de delegado da Polícia Federal.
A Primeira Turma do STF acolheu por 4 votos a 1 a acusação da PGR contra Ramagem, segundo a qual o deputado municiou Jair Bolsonaro com elementos para questionar a legitimidade das urnas eletrônicas e das eleições no Brasil. A PGR sustentou que os ataques de Bolsonaro à democracia brasileira, que envolveram articulações para aplicar um golpe de Estado no final de seu governo, começaram ainda em 2021, com discursos do então presidente deslegitimando o processo eleitoral — inclusive o que o elegeu, em 2018.
A condenação de Alexandre Ramagem pelo STF teve como provas de sua atuação na trama golpista três documentos apreendidos com ele pela Polícia Federal. Esses arquivos listavam argumentos para atacar as urnas eletrônicas. Um deles chegava a sugerir que Jair Bolsonaro usasse a AGU (Advocacia-Geral da União) para impedir que a PF fosse obrigada a cumprir decisões do STF.
A denúncia da PGR também apontou Alexandre Ramagem como comandante da “Abin paralela”, estrutura que operava dentro da agência de inteligência do governo durante a gestão Bolsonaro subsidiando ataques virtuais e notícias falsas contra adversários. A “Abin paralela” também monitorava alvos por meio de um programa que permitia o acesso à localização de dispositivos móveis de alvos em tempo real.
A defesa de Alexandre Ramagem negou as acusações da PGR e argumentou que a radicalização no discurso do governo Bolsonaro apontada pela denúncia teria ocorrido quando ele já não ocupava mais nenhum cargo na administração federal. Ramagem saiu do governo em março de 2022 para se candidatar a deputado.
