Família e aliados ajudam a encerrar a carreira de Bolsonaro
Com absoluta certeza, alguns aliados e quase todos os integrantes da família de Jair Bolsonaro devem ter boa cabeça. Com certeza também falta a eles o pensamento. Só pode ser uma maléfica epidemia de destempero coletivo, que há tempos se apoderou desse círculo em torno do capitão, atuando contra ele de forma bizarra e, para alguns, revoltante.
Contextualizando, no DF chamam isso de imaturidade política. Para o resto do País, é burrice mesmo. Até o filho Flávio, senador experiente e influente na corte, aderiu a essa corrente destemperada e ainda agarrada a aquelas absurdas crenças do “vai ou racha”, subestimando a força da Lei e as sentenças do tribunais. O vídeo postado por ele, invocando a Bíblia, as forças divinas e a população em defesa do réu resvala no ridículo, descredenciando tudo sua inteligência. Como se sabe, foi um robusto ingrediente para reforçar o pedido de prisão decretado pelo Supremo Tribunal Federal, com imensa riqueza de argumentos. O que se viu depois, como muitas imagens demonstraram, o próprio Bolsonaro referendou a pataquada que estava sendo armada, se metendo a abrir um instrumento de segurança como se fosse uma lata de sardinha. Deu no que deu.
Somam-se a manifestações como essa as absurdas declarações de Eduardo Bolsonaro ainda nos Estados Unidos, os atos de rebeldia e insinuações infundadas de parlamentares em plena Câmara dos Deputados, a fuga do país do condenado Ramagem, e a gritaria frequente do Pastor Malafaia, que faz barulho e só atrapalha. Os apelos emocionados da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, da forma como são feitos, carecem de credibilidade e, mal assessorada, nem percebe que está desperdiçando um possível potencial político que muitos acreditam que ela possui.
Há outro forte contingente de parentes e “amigos”, espalhados pela corte e vizinhança, desafiando as autoridades, e o bom senso das pessoas sensatas, com provocações rasteiras e desprovidas de amparo legal, pedindo o perdão a um condenado. Tudo isso, e algo mais que nem precisa ser dito, impediram de vez a possibilidade de que a justiça permita ao sentenciado cumprir sua pena em regime domiciliar.
Em resumo, vale aqui aquela máxima: foram buscar lã e saíram tosqueados. Aos menos informados sobre esse histórico de provocações feitas por Bolsonaro e seus “fies aliados”, vale também lembrar a histórica visita dele à Embaixada da Hungria, em 12 de fevereiro de 2024, apetrechado de roupas de dormir, e por lá permaneceu por mais de 24 horas, sinalizando talvez um possível abrigo político em caso de condenação.
Por mais de uma vez esse comportamento foi manifestado, levando a Justiça a redobrar as atenções sobre a possibilidade de uma atitude mais afoita. Com mais de setenta anos, saúde fragilizada, e já submetido a todas as avaliações exigidas pela Justiça, o ex-presidente, ao invés de demostrar equilíbrio e justa argumentação de defesa, aceita e embala sonhos daqueles que levam a ele ilusórias manifestações de liberdade, sem respaldo legal.
O que espanta, e surpreende, é o fato de que figuras próximas ao ex-presidente, algumas com bagagem política robusta, se juntem a uma emocionada “assessoria de crise”, sempre com providências mágicas, invocando até o sobrenatural, vendendo ilusões de liberdade a todo custo. Todo esse rebuliço, agito emocional e sensacionalismo gerado em torno dessa condenação aceleram o processo de desgaste, desprestígio e desmantela projetos eleitoreiros em curso, cada vez mais baseados em argumentos frágeis.
A Justiça tem argumentos sólidos para adotar a medida que adotou. A sociedade, mesmo que não concorde com o roteiro desse evento, já entendeu que há uma desproporção evidente de competência na sequência desse embate. De um lado está a força da lei. De outro, um amontoado de “advogados” movidos a emoção, fechando os olhos às evidências, buscando no alvoroço circunstancial a salvação a uma causa de impossível reversão.
A dura realidade da vida comprova que toda ação provoca uma consequência, e em muitos casos é preciso ter estrutura, fortaleza e uma alta soberania emocional para bem administrar prejuízos. Da causa em que estamos tratando, está mais do que patenteado que as ações de familiares e as atitudes açodadas de auxiliares despreparados contribuíram para um precoce resultado negativo em todos os sentidos. Por último, desmantela de vez o anunciado gigantismo político de Bolsonaro, fracassando uma vez mais quando dele se esperava algum gesto de nobreza, resignação e postura de liderança a seus comandados, mesmo à distância. Triste maneira de encerrar uma carreira política, e tendo como algoz entidades tão próximas, e tão distantes. Todos elas sabem disso, mas não vão admitir. É verdade sim, que quem semeia ventos colhe tempestades, ou tornados.
José Natal é jornalista com passagem por grandes veículos de comunicação como Correio Braziliense, TV Brasília e TV Globo, onde foi diretor de redação, em Brasília, por quase 30 anos. Especializado em política, atuou como assessor de imprensa de parlamentares e ministros de Estado e, ainda, em campanhas eleitorais
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