Em um vídeo publicado em suas redes sociais nesta segunda-feira, 24, Alexandre Ramagem citou as sanções aplicadas pelos Estados Unidos contra Alexandre de Moraes por meio da Lei Magnitsky, que declarou o ministro do STF como violador de direitos humanos. Em tom desafiador, Ramagem declarou que, caso queira sua extradição, Moraes terá que submeter ao governo Donald Trump o processo da tentativa de golpe. Ele se referiu ao ministro como “tirano da toga”.
Localizado pelo PlatôBR em um condomínio de luxo de Miami, na quarta-feira passada, 19, o deputado bolsonarista é alvo de um mandado de prisão preventiva assinado por Moraes. Ele classificou a ordem como “manifestamente ilegal”.
Depois de dias em silêncio, Alexandre Ramagem passou a se manifestar nas redes sociais e em transmissões ao vivo de bolsonaristas desde esse domingo, 23. Ramagem tem afirmado que o governo Trump sabe de sua fuga para o país e o apoia.
“Se esse violador de direitos humanos declarado, sancionado mundialmente, se ele quiser pedir minha extradição, ele vai ter que enviar essa ação do golpe, nula do começo ao fim, cheia de ilegalidades, inconstitucionalidade, perseguições, que eu estou nela com Bolsonaro. Ele vai ter que enviar para análise dos Estados Unidos. Só que o tirano da toga sabe de todas as atrocidades que ele cometeu nesses autos. É só mandar formalmente para cá e esperar a declaração da maior nação efetivamente democrática do mundo”.
No mesmo vídeo, Alexandre Ramagem pediu pela mobilização das bancadas evangélica e do agronegócio para que o projeto de uma “anistia ampla, geral e irrestrita” seja aprovado na Câmara e no Senado.
“É hora de anistia, ampla geral e irrestrita. Cadê a bancada do agro? Vai ficar do lado dos destruidores do país? Cadê a bancada evangélica? Vai ficar do lado de quem persegue, de quem é contra a família, os valores cristãos? Eu falo porque eu faço parte das duas. Com todos os votos delas a gente consegue aprovar a anistia. É hora de conseguir pautar a anistia. Se pautar, passa, consegue a aprovação, na Câmara e no Senado”, afirmou.
Obstáculos à prisão
A ordem de prisão assinada por Alexandre de Moraes depende de fatores alheios à caneta do ministro para ser cumprida.
Em casos como este, a praxe é que o Supremo determine a inclusão do nome do investigado na difusão vermelha da Interpol, lista de pessoas procuradas internacionalmente. Uma vez que a solicitação seja atendida e o alvo localizado e preso, o passo seguinte são tratativas entre o governo brasileiro e autoridades estrangeiras por uma extradição.
A inclusão de nomes de alvos na lista da Interpol, no entanto, não é automática nem garantida. A corporação pode pedir mais informações e, ao final, negar-se a inserir o nome de um suspeito em sua difusão vermelha.
Esse desfecho já ocorreu em relação a outro bolsonarista que vive nos Estados Unidos: o blogueiro Allan dos Santos, alvo de um mandado de prisão de Moraes desde 2021. A Interpol solicitou ao STF mais informações sobre os crimes atribuídos a Santos e, diante do que considerou falta de provas sobre lavagem de dinheiro, decidiu não incluí-lo na difusão vermelha. O blogueiro segue livre em território americano.
Mais recentemente, por outro lado, a Interpol atendeu ao pedido brasileiro pela inclusão da deputada Carla Zambelli na lista de fugitivos internacional. Condenada pelo STF por invasão ao sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Zambelli fugiu para a Itália e acabou sendo encontrada e presa nos arredores de Roma, em julho. O governo brasileiro pediu a extradição dela à Itália e o processo está em tramitação.
Assim como a colega bolsonarista, e ao contrário de Allan dos Santos, Alexandre Ramagem foi condenado pelo STF. O deputado do PL foi sentenciado a 16 anos, 1 mês e 15 dias de prisão no julgamento da tentativa de golpe.
Por estar nos Estados Unidos, contudo, Ramagem tem como trunfo as sanções aplicadas pelo governo americano a Alexandre de Moraes. O ministro foi enquadrado pelo governo Donald Trump na Lei Magnitsky, que impõe sanções econômicas a alvos considerados violadores de direitos humanos. Por essa razão, no caso de Ramagem, um eventual pedido de extradição, após uma possível prisão dele, muito provavelmente enfrentaria consideráveis obstáculos políticos.
Condomínio de luxo
O PlatôBR localizou Alexandre Ramagem em um condomínio de luxo em North Miami, para onde foi com a família.
O complexo onde Ramagem está, o Solé Mia, tem acesso direto para uma piscina artificial do tamanho de dois campos de futebol. Cercada por areia e palmeiras, a “laguna” é preenchida com água cristalina, imitando uma praia caribenha, com oferta de atividades náuticas, como caiaque e stand up paddle. Há, ainda, várias quadras esportivas, playground, áreas para piquenique, estúdio de ioga, pista de cooper, trilhas para caminhadas e spa.
O complexo é formado por dois prédios de 17 andares, com varandas amplas, construídas em linhas curvas sobre a fachada e vista livre para a costa. O aluguel de um apartamento simples no local custa, em média, R$ 2 mil a diária.
O ponto escolhido pelo deputado federal é um bairro recente, em expansão, com novos empreendimentos sendo erguidos ano a ano. Os moradores da região são, em sua maioria, famílias ricas da América Latina, inclusive muitos brasileiros. Num clube anexo ao Solé Mia, os moradores costumam se reunir para papear, beber e jogar padel, uma mistura de beach tênis e squash.
