Não é de hoje o clima de animosidade entre o líder do PT, Lindbergh Farias (RJ), e o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). Entre discursos duros do petista e repostas atravessadas de Motta, os dois há algumas semanas se estranhavam nas reuniões de líderes e no plenário, mas sem rompimento explícito. O presidente da Câmara, agora, não faz mais segredo da briga.

A gota d’água para o rompimento teria ocorrido na quinta-feira, 20, após o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ) ser descoberto votando nas sessões nos Estados Unidos, para onde embarcou, diante da iminência de sua prisão devido à participação na trama golpista.

Motta foi avisado de que, em uma reunião de parte da bancada, tanto o líder quanto o deputado Rogério Correia (PT-MG) teriam defendido que o partido o caracterizasse como “cúmplice de Ramagem”. A informação teria chegado a Motta por meio de petistas que teriam concordado com a proposta.

Na mesma quinta-feira, Motta se irritou com uma postagem de Correia que, no entender do presidente da Câmara, confirmava o que os petistas discutiram na reunião. A postagem dizia que a Mesa Diretora da Câmara teria ignorado o paradeiro de Ramagem e permitido que ele votasse nas sessões. Motta ligou para Correia, reclamou da postagem. Corrêa, então, apagou a publicação e gravou um vídeo pedindo desculpas a Motta e à Câmara pela ilação.

Ampliação da crise
Para Motta, porém, o estrago já estava feito. Irritado, além da reclamação direta com Correia, ele também teria se queixado de Lindbergh com o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), dando a entender que o desentendimento com o líder do PT chegara ao ponto de estremecer a relação com a ministra Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais), que é casada com o líder petista. 

Aliados de Lindbergh e pessoas próximas negam que a reunião para tratar de Motta tenha acontecido. O presidente da Câmara não acredita, já que foi avisado por petistas no momento em que a conversa estaria ocorrendo.

Os desentendimentos entre os dois ficaram mais acentuados depois que Motta escolheu o deputado Guilherme Derrite (PP-SP), aliado do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), para relatar o PL Antifacção, de autoria do governo. Ao reagir, Lindbergh disse que o presidente da Câmara contribuíra para o “furto” do projeto de lei por Derrite. Em uma reunião de líderes, Motta disse que não seriam “bravatas” ou campanhas na internet que o fariam recuar. Desde então, o clima piorou.

Nesta segunda-feira, 24, depois de Motta dizer, em entrevista à Folha de S.Paulo, que não tinha mais interesse em manter relação com Lindbergh, o líder do PT foi às redes para rebater e classificou a atitude do presidente de “imatura”, lembrando episódios nos quais o governo considera ter sido traído por Motta. 

“Sempre atuei de forma clara e com posições coerentes, nunca na surdina e erraticamente, como agiu o presidente da Câmara na derrubada do IOF, na PEC da Blindagem e na escolha do deputado Guilherme Derrite como relator de um PL de autoria do Poder Executivo”, disse o líder petista. Ele também afirmou que, se há crise de confiança, a responsabilidade seria de Motta pelas escolhas que fez.

No Senado
A briga de Motta com o PT e a crise aberta com o Planalto são apenas uma parte da crise deflagrada pelo governo com o Congresso na última semana. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), se sentiu traído pelo líder do governo, Jaques Wagner (PT-BA), quando Lula indicou o advogado-geral da União, Jorge Messias, para o STF.

A insatisfação de Alcolumbre, pelo que dizem aliados, decorre do fato de que, desde que a vaga foi aberta, Wagner anunciou que Lula estava decidido a indicar Messias. Assim, não deixou margem para o presidente do Senado negociar o nome do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), aliado de Alcolumbre, para o posto. Wagner diz não saber dos motivos do rompimento que ficou explícito na semana passada, depois da confirmação do nome de Messias, quando ligou para o presidente do Senado e para Pacheco e não foi atendido por eles.