Em cerimônia no Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula (PT) ignorou as divergências com a cúpula do Congresso e sancionou nesta quarta-feira, 26, a lei que isenta do pagamento do Imposto de Renda as pessoas que ganham menos de R$ 5 mil reais mensais. Sem as presenças dos presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), o petista apostou em um discurso voltado para os mais pobres e para o combate à desigualdades. Antecipou, assim, o tom que adotará na provável candidatura ao quarto mandato no Planalto.
Lula elogiou o texto aprovado por beneficiar pessoas “invisíveis”. Disse que a isenção do IR é o primeiro passo na busca de um “desenvolvimento médio” do país e sinalizou que o governo vai encampar a proposta do fim da escala 6×1, assunto com grande apelo popular que deve embalar os discursos no próximo ano.
“O pobre não quer muita coisa. Quer garantia de que vai ter comida, estudo, moradia, emprego”, afirmou Lula. “Esse tema vai chegar na nossa mesa logo, logo”, disse Lula. “A gente não pode continuar com a mesma jornada de trabalho de 1943. Isso não é possível, os métodos são outros, a inteligência foi aprimorada”, afirmou.
Relação política
No único momento em que falou sobre relação política, Lula exaltou a escolha do vice, Geraldo Alckmin (PSB-SP), antes adversário, agradeceu aos relatores da proposta, Arthur Lira (PP-AL), na Câmara, e Renan Calheiros (MDB-AL), no Senado, e direcionou agradecimentos a cada parlamentar que votou a favor do texto. Lula disse que deputados e senadores tiveram a “sensibilidade de fazer com que o país pudesse continuar acreditando na política”, “na democracia” e que “é possível a gente viver democraticamente na adversidade”.
Lula mandou recados indiretos para Motta e Alcolumbre. “Ninguém precisa ser igual a outro. Nós temos apenas que nos respeitar. Aprender a conversar e, sem pressa, encontrar o caminho do meio que possa, não atender a um ou a outro, mas que possa atender a todos”, disse o presidente.
Conclusão do processo contra Bolsonaro
Lula tratou do trânsito em julgado e as prisões realizadas na terça-feira dos condenados pela tentativa de golpe, inclusive do ex-presidente Jair Bolsonaro. “Ontem esse país deu um passo importante, uma lição de democracia ao mundo. A justiça brasileira mostrou a sua força, não se amedrontou com as ameaças de fora e fez o julgamento primoroso, sem uma acusação de oposição. Toda acusação veio de dentro da quadrilha que tentou dar um golpe nesse país. Pela primeira vez em quinhentos anos na história desse país, você tem alguém preso por tentativa de golpe”, disse.
“Você tem um ex-presidente da República e quatro generais presos. Uma demonstração de que democracia vale para todos, democracia não é privilégio de ninguém. É um direito de 215 milhões de brasileiros. Portanto, eu estou feliz. Não pela prisão de ninguém. Estou feliz porque esse país demonstrou que está maduro para exercer a democracia na mais alta plenitude”, enfatizou.
Relação com o Congresso
O comentário sobre a ausência de Motta e Alcolumbre ficou por conta da ministra Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais), que minimizou os efeitos políticos da decisão dos dois. “A ausência dos presidentes da Câmara e do Senado não tira o brilho dessa conquista, que é, acima de tudo, uma vitória do Brasil e do povo brasileiro, e representa uma das mais importantes desse mandato do presidente Lula, porque inicia o processo de mexer na chaga da desigualdade histórica que temos no Brasil”, disse, antes da cerimônia.
O ministro Fernando Haddad (Fazenda) buscou amenizar o clima. Ele abordou a necessidade de o governo estabelecer parceria com os dois presidentes. “Queria cumprimentar o presidente Hugo Motta e o presidente Davi Alcolumbre, agradecer muito o empenho dos dois de dar tramitação desse projeto”, disse Haddad. “Eu queria dizer a eles que o Brasil precisa muito deles. Queria que eles soubessem, da presidência das duas Casas que nós precisamos, como brasileiros, da atenção, dos seus trabalhos, das suas lideranças para que possamos concluir exitosamente este ano”, acrescentou o ministro.
