A ausência de Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) na cerimônia de sanção do projeto do IR (Imposto de Renda) e sua ofensiva contra o Planalto ainda é um assunto pouco entendido por membros do governo. Muitos consideram desproporcional a reação do presidente do Senado, até então considerado um aliado importante do governo no Centrão, diante da escolha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva por Jorge Messias para a vaga no STF (Supremo Tribunal Federal), em detrimento da indicação do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), nome defendido pelo presidente do Senado. 

Dentro do governo, existe a avaliação de que essa situação é insustentável para Alcolumbre, que mantém indicações em vários ministérios e órgãos do governo como autarquias e bancos públicos. Para o Planalto, não haveria interesse do presidente do Senado em abrir mão dessa relação a menos de um ano da eleição.

O líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (PT-AP), levantou uma bandeira branca em nome de Lula. “O mais importante, num primeiro momento, é uma conversa entre o presidente Lula e o presidente Davi Alcolumbre. E isso, tenho certeza, ocorrerá. Não tem possibilidade de não ocorrer”, apostou. “Não existe nenhuma rusga. Não existe possibilidade de não ter diálogo entre os dois”, disse.

No início da semana, o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), também indicou em entrevista que não sabia quais eram os motivos para o rompimento de Alcolumbre com ele. Se existe alguma negociação nos bastidores, ainda não chegou ao público.

As ações do presidente do Senado também intrigam alguns senadores. Um membro do Centrão chegou a comentar que é preciso observar o que o presidente do Senado está interessado ainda em negociar com o governo. Essa resposta, para ele, ainda não está clara.

Campanha
A sabatina de Messias foi marcada para o próximo dia 10 de dezembro e a leitura do documento na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado será no dia 3 de dezembro. Mas existe um detalhe que tem sido observado pelo presidente da comissão, senador Otto Alencar (PSD-BA). Apesar do anúncio feito na semana passada, o governo ainda não mandou o documento para o Senado. Sem a mensagem com a oficialização do nome, não há o que ler na CCJ, ou seja, não há como dar início ao processo de sabatina. O governo não confirma a manobra protelatória, mas senadores ligados ao Planalto admitem que Lula ainda tem um trunfo para poder adiar a apreciação e dar a Messias um prazo maior para sua campanha.

Lula queria entregar o documento nas mãos de Messias nesta terça e chegou a pedir um horário para conversar com ele, antes ou depois da cerimônia. Com a ausência, a entrega não ocorreu.

Nesta quarta-feira, 26, Messias se dedicou a visitas a gabinetes para pedir votos. Ele esteve com a senadora Eliziane Gama (PSD-MA) e com o senador Sérgio Petecão (PSD-AC). O PSD, partido dos dois e também de Pacheco, tem a maior bancada no Senado e, nesse primeiro momento, é a prioridade de Messias.

Outro membro do partido é o senador Omar Aziz (MA), que após participar da cerimônia no Planalto disse que a aprovação de Messias no Senado não é impossível. Aziz confirmou que terá uma conversa com Messias nesta quinta-feira, 27. “Nada é fácil nesse clima que o Congresso está com outras questões políticas que provocam esse acirramento. O Congresso está muito dividido”, comentou o senador.