O PSDB aproveitou a convenção em Brasília nesta quinta-feira, 27, para ensaiar um discurso de retomada do espaço político nacional após anos de evasão de quadros, desempenho eleitoral fraco e perda de voz no debate público. Embalado por um jingle que repetia “o tucano voa alto e faz o sonho ressurgir”, o evento marcou o retorno de Aécio Neves (MG) à presidência da sigla oito anos depois de deixar o posto.

“A ausência do PSDB do centro do debate político fez muito mal ao Brasil”, afirmou Aécio, em entrevista coletiva concedida após a convenção, ao criticar a polarização entre lulismo e bolsonarismo. Ele defendeu um “caminho inteligente ao centro” e disse que o partido precisa oferecê-lo a eleitores cansados de alternar votos “no menos pior”.

A fala reflete o cenário que a legenda tenta reverter. Após a Lava Jato e a ascensão de Jair Bolsonaro, o PSDB perdeu terreno para a direita e encolheu rapidamente: dos governadores eleitos em 2022, nenhum permaneceu na sigla — dois migraram para o PSD e um para o PP. A bancada federal caiu para 13 deputados, e o partido conta hoje com três senadores. Os números contrastam com o auge de 1998, quando elegeu 99 deputados, 16 senadores e sete governadores.

Esse encolhimento ameaça a sobrevivência institucional do PSDB. A sigla corre o risco de não ultrapassar a cláusula de barreira em 2026, o que a deixaria sem fundo partidário e tempo de TV. Na prática, obrigaria o partido a negociar uma fusão com outra legenda para continuar existindo. A nova direção aposta que a reorganização interna e a atração de quadros na janela partidária — especialmente deputados — podem evitar esse desfecho.

A prioridade imediata é reforçar a bancada no Congresso. Para 2026, a ideia é trabalhar para viabilizar uma candidatura contra os dois polos, ainda que não necessariamente tucana. A hipótese de apoio ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), foi comentada por Aécio: “Se ele for apenas representante do bolsonarismo, é muito difícil que seja alternativa para nós. Não há veto prévio, mas queremos discutir os problemas reais do Brasil”.