Nos últimos dias, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva entrou diretamente nas conversas com senadores sobre a escolha de Jorge Messias para ministro do STF. Na busca de uma reaproximação com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), o petista se encontrou esta semana com o presidente da CCJ, Otto Alencar (PSB-BA), com o senador governista Omar Aziz (PSD-AM) e com o relator da indicação de Messias, Weverton Rocha (PDT-MA).
Nesses encontros, Lula ouviu que a única saída para a crise instalada com o Senado é uma conversa com Alcolumbre, sem rodeios e o mais rapidamente possível. O presidente ainda tem na agenda pelo menos mais dois senadores, Eduardo Braga (MDB-AM) e o líder do MDB, Renan Calheiros (AL), ambos também favoráveis à imediata retomada do diálogo com o comandante do Senado.
Do lado do Planalto, o principal objetivo dos encontros é entender as razões da contrariedade de Alcolumbre, considerada desproporcional pelo governo. Os boatos de que o problema poderia ser resolvido com cargos federais foram prontamente desmentidos pelo presidente do Senado e pela ministra Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais). Qual seria, então, o busílis?
As informações que chegam a Lula apontam para uma resposta: Alcolumbre não assimilou o fato de Lula ter descartado o nome do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Mais que isso, as informações levadas ao Planalto revelam o descontentamento geral do Senado, não apenas do presidente da instituição.
Um senador aliado do governo disse ao PlatôBR, sob reserva, que a não indicação de Pacheco representou um desprestígio para todo o Senado, não apenas para Alcolumbre, que tinha um comprometimento pessoal com a candidatura do senador. “A questão do Rodrigo [Pacheco] é um problema do Senado, não é um problema apenas do Davi [Alcolumbre]. Neste sentido, essa votação é mais complicada do que parece. Não tem nada a ver com o Messias, todo mundo se dá bem com ele, mas a circunstância política da indicação complica [a aprovação]”, observou o parlamentar.
As reclamações partem do entendimento de que o Senado foi parceiro de Lula desde a transição de governo e, em muitos momentos, ajudou na contenção de pautas da oposição que passaram pela Câmara, como a “PEC da Blindagem”. Pacheco, em particular, teve papel decisivo na reação à tentativa de golpe de Estado. Por essas razões, senadores classificam de “ingratidão” o comportamento de Lula.
Cancelamento e irritação
Nesta terça-feira, 2, a irritação de Alcolumbre com Lula aumentou por ter sido obrigado a rever o cronograma que havia estipulado para a tramitação da indicação de Messias, na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) e também no plenário. O presidente do Senado classificou o fato de o governo não ter enviado a mensagem com o nome de Messias de omissão “grave e sem precedentes” do Poder Executivo. “É uma interferência no cronograma da sabatina, prerrogativa do Poder Legislativo”.
O governo, nesse caso, havia dobrado a aposta, mesmo alertado por aliados de que o atraso no envio da mensagem tinha potencial para esgaçar ainda mais a relação já conturbada com o Senado. Na busca da retomada de diálogo, Lula avalia o melhor caminho para procurar Alcolumbre. Para isso, ele pediu que Weverton Rocha atue como um “termômetro” para sentir o momento certo para procurar o presidente do Senado.
