O PIB (Produto Interno Bruto) do terceiro trimestre registrou alta de apenas 0,1% segundo dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta quinta-feira, 4. O resultado ficou abaixo da mediana das projeções de mercado, que apostava em alta de 0,2% e mostra que a economia brasileira está em desaceleração, diante dos juros em 15% ao ano

Entretanto, a queda no nível de atividade não deve levar o Banco Central a reduzir a Selic na próxima quarta-feira, 10, data da reunião do Copom (Comitê de Política Monetária). O início do ciclo de cortes tende a ficar para 2026. 

A combinação de baixo desemprego e a lenta queda da inflação tem obrigado a autoridade monetária a manter uma postura conservadora, nas palavras do presidente do BC, Gabriel Galípolo. “Se você não sabe muito bem o que está acontecendo ali, na dúvida, o papel do Banco Central é ser um pouco mais conservador”, disse, ao participar de um evento na segunda-feira, 1.tr

O resultado do PIB também mostrou uma desaceleração do consumo das famílias no trimestre, com alta de 0,1%, e a 18ª variação positiva seguida na comparação anual. Principal motor do crescimento econômico brasileiro nas últimas décadas, o consumo parece dar sinais de que chegou ao potencial máximo nesse momento.

Os aumentos reais do salário mínimo, que têm reflexo no valor dos benefícios previdenciários, trabalhistas e assistenciais, ajudaram a manter o consumo em alta ao longo dos três últimos anos, o que pressiona a inflação que deve ser controlada pelo BC. Como a renda no Brasil é baixa, as famílias preferem comprar do que poupar. E essa dinâmica leva ao aumento do comprometimento de renda, que fechou a 28,6% em setembro, o maior da história, segundo dados da autoridade monetária. 

A renda comprometida diminui o potencial e o consumo das famílias e reduz o nível de atividade, pois o brasileiro não tem dinheiro disponível para gastar com produtos e serviços. Uma outra fonte de pressão inflacionária que chama a atenção da equipe de Gabriel Galípolo é o consumo do governo, que também é calculado pelo IBGE. No terceiro trimestre, esse indicador voltou a acelerar e cresceu 1,3%. Significa dizer que municípios, estados e o governo federal têm aumentado as despesas, o que também pressiona a inflação. 

Com o consumo das famílias batendo no teto do seu potencial, o crescimento econômico sustentado depende de investimentos robustos e da melhora da qualidade da mão obra, o que garante maior renda para as famílias e contribui para a formação da taxa de poupança. Mais poupança garante mais investimento e mais empregos. Entretanto, o país ainda está longe desse ciclo virtuoso diante da dificuldade do governo de atrair capital estrangeiro de longo prazo diante das incertezas fiscais do país.