De repente, a manifestação do advogado-geral da União pedindo uma reconsideração do ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal), passou a ser a peça mais importante, mais institucional e mais alinhada ao pensamento do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) na defesa das prerrogativas dos senadores.

Foi dessa forma que um integrante do governo avaliou os movimentos políticos da quarta-feira, 3, dia da decisão liminar de Gilmar Mendes que restringiu ao procurador-geral da República a atribuição de pedir abertura de processo de impeachment contra integrantes da Corte.

Messias fez questão de assinar a reclamação que, nesta quinta-feira, 4, foi rejeitada pelo ministro. Mas o gesto já estava feito em direção não só a Alcolumbre, mas também aos demais senadores que de forma uníssona repudiaram a decisão do ministro. O presidente do Senado havia passado mais de uma semana revoltado com o governo devido à indicação feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em detrimento do nome de sua preferência, o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

“Se vai ser suficiente para acalmar a situação, vai depender da subjetividade de Alcolumbre”, avaliou um interlocutor do governo nesta quinta-feira, 4. “De forma consciente ou não, o fato é que Gilmar Mendes deu de presente essa decisão para Messias”, completou.

A raiva de Alcolumbre havia aumentado na terça-feira, 3, quando ele precisou alterar o cronograma de apreciação do tema porque o governo, para ganhar tempo para a campanha de Messias, não enviou ao Senado a mensagem oficializando a indicação.

Agora, o Planalto trabalha para amainar os ânimos. Lula, segundo o relator da indicação, senador Weverton Rocha (PDT-MA), pretende procurar Alcolumbre para uma conversa nos próximos dias. Na quarta-feira, 3, ao comentar o assunto, o petista disse que não entendia muito bem o motivo da crise, que já havia indicado outros ministros sem a mesma reação.

No dia da decisão de Gilmar, o líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (PT-AP), em consonância com a articulação do Planalto, se dirigiu a Alcolumbre em discurso feito na sessão do Senado e disse que estava arrependido de ter votado de forma contrária ao projeto que limita decisões monocráticas de ministros do STF. Essa proposta foi provada no Senado e está em tramitação na Câmara.

Críticas de Lula
Mesmo em clima de distensão com o Senado, Lula fez críticas nesta quinta-feira, 4, durante reunião do CDESS (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Sustentável), ao sistema de emendas parlamentares. “Eu, sinceramente, não concordo as emendas impositivas. Eu acho que o fato do Congresso Nacional sequestrar 50% orçamento da União é grave erro histórico, eu acho”, afirmou o presidente. “Mas, você só vai acabar com isso quando você mudar as pessoas que governam e as pessoas que aprovaram isso”, acrescentou.