Uma sucessão de lances na cúpula dos três poderes manteve o Congresso, o STF e o Planalto em choque na primeira semana de dezembro. Os embates entre Davi Alcolumbre e Lula em torno da indicação de Jorge Messias para o Supremo se desdobraram em novos episódios que agitaram o ambiente político na reta final do ano.
Alcolumbre reagiu com uma nota oficial no domingo, 30, aos rumores de que sua insatisfação com o nome escolhido pelo petista tinha razões fisiológicas e seria resolvida com cargos no governo ou com questões relacionadas a emendas. Essa interpretação, segundo o comunicado, era ofensiva ao Senado e ao Legislativo, uma tentativa de desqualificar quem diverge de uma ideia ou interesse.
O Planalto se apressou em negar que Alcolumbre reivindicasse algum benefício fisiológico para aceitar o nome de Messias. Mas a tensão continuou em alta porque o governo não enviou ao Congresso a mensagem com a formalização da indicação do advogado-geral da União para o STF. Irritado, o presidente do Senado cancelou a sabatina de Messias, marcada para o dia 10 de dezembro. Para o governo, a decisão de Alcolumbre foi positiva, por proporcionar mais tempo para conseguir votos suficientes para aprovar o nome do chefe da AGU.
Apesar dos conflitos, a CCJ do Senado aprovou na terça-feira, 2, o projeto de lei que aumenta as taxações de bets, fintechs e bancos, proposta importante para o caixa do governo. O texto seguiu para a Câmara. Na quinta-feira, 4, o Congresso aprovou a LDO de 2026, mais um sinal de que existe espaço para diálogo institucional, mesmo em tempos de turbulência.
Na tarde a quinta-feira, 4, Alcolumbre se mostrou de novo irritado, por causa de declarações de Lula. Em discurso feito e reunião do Conselhão, o petista disse que o Congresso “sequestra” o orçamento com emendas impositivas. O presidente do Senado reagiu dizendo que a aprovação da LDO e de uma ajuda aos Correios são demonstrações de que não existe “sequestro”.
Decisão de Gilmar Mendes facilitou aproximação entre o Senado e o Planalto
Um despacho de Gilmar Mendes permitiu ao governo fazer gestos de aproximação com o Senado. Na quarta-feira, 3, ele tomou uma decisão que restringe à Procuradoria-Geral da República a prerrogativa de entrar com pedidos de impeachment de ministros do STF. A medida também aumenta de 50% para dois terços o quórum para a cassação dos integrantes do Supremo.
O Congresso se levantou contra o despacho de Gilmar, e teve o apoio do Planalto. Primeiro, o líder do governo, Randolfe Rodrigues, fez uma autocrítica no plenário por ter, em 2023, votado contra um projeto que limitava as decisões monocráticas de ministros do STF. Mais tarde, o próprio Messias, na condição de advogado-geral da União, pediu a Gilmar que a decisão fosse reconsiderada.
Gilmar rejeitou o pedido de Messias, mas os gestos políticos do governo já estavam feitos.
O crescimento de Michelle Bolsonaro
A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro teve uma surpreendente vitória na disputa com os filhos de Jair Bolsonaro pelo controle das decisões do PL. No domingo, 30, ela participou do lançamento da pré-candidatura do senador Eduardo Girão (Novo-CE) ao governo do Ceará e desautorizou o acordo que o PL havia feito para apoiar o ex-ministro Ciro Gomes (PSDB) na eleição estadual.
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-RJ) e o vereador Carlos Bolsonaro (PL) ocuparam as redes para criticar com veemência a atitude da madrasta. Mas ela esteve com o ex-presidente, preso na Superintendência da PF em Brasília, e foi apoiada em sua posição. Conseguiu também que Flávio fizesse um pedido de desculpas público pelas críticas nas redes. Em reunião da cúpula, o PL aprovou o rumo dado por Michelle e suspendeu a aliança com o PSDB cearense.
Com essa vitória, a ex-primeira-dama se fortaleceu nas discussões sobre a montagem da chapa do PL para a sucessão presidencial. Entre os pré-candidatos ao Planalto, ela e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, são os que aparecem mais bem posicionados nas pesquisas eleitorais.
Tarifaço e segurança: o telefonema de Lula para Trump
Lula telefonou para Donald Trump na terça-feira, 2. Na conversa, falaram da suspensão das sobretaxas que ainda afetam produtos brasileiros e do combate ao crime organizado internacional. O petista saiu da conversa otimista com a possibilidade do fim do tarifaço e com a cooperação na área de segurança. Trump voltou a elogiar Lula e a prever estreitamento nas relações entre Estados Unidos e Brasil.
Do telefonema, pouco foi divulgado sobre o que trataram em relação à Venezuela, sob ameaça de um ataque por terra dos EUA. Lula tenta mediar algum acordo nesse confronto.
