Depois de anos longe dos respectivos palácios, velhos conhecidos da política resolveram tentar o caminho de volta aos cargos que já ocuparam. Três ex-governadores decidiram retornar ao tabuleiro eleitoral em 2026 e tentam retomar o comando dos estados que já governaram. No DF, José Roberto Arruda testa os limites de sua situação jurídica. Ciro Gomes reaparece no Ceará como peça estratégica dos tucanos, em aliança com a direita local. Em Goiás, Marconi Perillo crava sua pré-candidatura prometendo consertar o que diz estar destruído.
Arruda tenta no Distrito Federal um retorno que passa tanto pela política quanto pela Justiça. Pré-candidato e prestes a se filiar ao PSD, convidado pelo presidente do partido, Gilberto Kassab, o ex-governador afirma querer “concluir a missão que ficou pela metade”. “Faz 15 anos que saí do governo e Brasília vive uma derrocada. Quero resgatar a capital, quero que volte a ser modelo para o país”, disse em entrevista ao PlatôBR. Nas pesquisas, ele aparece numericamente empatado com a vice-governadora Celina Leão (PP) no levantamento Paraná Pesquisas divulgado em outubro: ela tem 32,2% das intenções de voto, ele aparece com 29,8%.
O grande incômodo, porém, continua sendo sua situação jurídica. Após ter sido condenado por improbidade no caso Caixa de Pandora, Arruda segue inelegível e tenta reverter decisões no STJ (Superior Tribunal de Justiça), mas uma ação nesse sentido foi rejeitada em outubro deste ano. A palavra final, porém, só virá no registro das candidaturas, em agosto de 2026, quando a Justiça analisar o caso.
No Ceará, Ciro Gomes protagoniza um retorno diferente: depois de 35 anos orbitando outras legendas e quatro tentativas de chegar ao Planalto, voltou ao PSDB para reconstruir terreno no estado que o lançou nacionalmente. A filiação teve a bênção de seu padrinho político, o ex-governador Tasso Jereissati, e reuniu de tucanos a bolsonaristas, numa prévia da frente que tenta se organizar para enfrentar o governador Elmano de Freitas (PT).
A movimentação recoloca Ciro no centro de uma articulação que envolve PSDB, União Brasil e parte do PL — partido que, no entanto, suspendeu as conversas após a crise envolvendo Michelle Bolsonaro e os filhos do ex-presidente. O imbróglio expôs o esforço local para construir uma candidatura competitiva sem novos ruídos. Ainda assim, Ciro aparece com desempenho forte nas pesquisas: a Real Time Big Data mostra empate técnico com Elmano em um cenário (39% para cada) e vantagem em outro (44% a 42%).
Em Goiás, Marconi Perillo (PSDB) não usa meias palavras para comunicar que está de volta. “Eu voltei a ser procurado por muita gente”, afirmou, ao defender que o estado precisa “pensar mais longe” e retomar planejamento para as próximas décadas. Ele cita obras estruturantes e políticas sociais dos mandatos anteriores para argumentar que o estado de Goiás estaria “estagnado”. “Goiás está sendo destruído por um governador que não construiu nada, só destruiu parte do que fizemos”, declarou ao PlatôBR.
Experiência administrativa
Pré-candidato declarado, Perillo aparece tecnicamente empatado com Daniel Vilela (MDB) na pesquisa Quaest divulgada em agosto — 26% a 22% — e aposta na combinação de experiência administrativa e críticas ao governador do estado, Ronaldo Caiado (União Brasil) para viabilizar a retomada. Seu discurso mira sobretudo a infraestrutura e a reorganização fiscal, áreas nas quais reivindica legado e diz querer “consertar com a ajuda do povo”.
Além dos três nomes, outros dois ex-governadores também circulam nas conversas sobre possíveis retornos em 2026. No Rio de Janeiro, aliados dizem que Wilson Witzel, que sofreu um impeachment em 2021, procura um partido para se filiar e viabilizar uma nova candidatura. Em Minas Gerais, Aécio Neves não demonstra interesse em colocar o retorno ao governo como prioridade, mas confirmou ao PlatôBR, em novembro, que o PSDB tem planos para que ele concorra à sucessão de Romeu Zema.
A convergência desses movimentos reposiciona Arruda, Ciro e Marconi como peças relevantes para 2026. Cada um enfrenta desafios distintos — da disputa jurídica ao ajuste partidário e à reconstrução de palanques —, mas todos testam a própria capacidade de voltar a liderar cenários que já dominaram.
