O Rio de Janeiro, em alguns pontos da cidade, continua lindo. Continua lindo onde a natureza dispensa a presença dos órgãos públicos, onde respira sem ter que dividir espaço com a presença de seus políticos, e mais ainda onde as comunidades, ordeiras e sem fumacê, conseguem viver dias e noites sem ouvir estampidos de bala de fuzil, e quem sabe até levar e buscar crianças na escola, voltando pra casa sem arranhões.

O samba, a alegria de fevereiro e março e o futebol do Flamengo também estão por lá, e vão ficar. Chacrinha e Tim Maia já se foram, deixando abraços. O que mais resta do Rio já não nos motiva muito, foi o tempo da cidade maravilhosa, cheia de encantos mil. Triste realidade de uma cidade que parece ter orgulho de ser a metrópole brasileira que mais colocou na cadeia alguns de seus ex-governadores.

Sem dispensar a hipótese de ter mais um ou dois nessa lista macabra. A citação da cidade do Rio de Janeiro, que aqui fazemos, vale apenas para buscar um exemplo de tudo que não se deve fazer para que uma cidade, ou um estado, cheguem ao ponto de achar graça das críticas que recebe, pouco se lixando para a opinião pública.

Cidade que mistura a competência da polícia com a concordância da milícia, perde o título de ser maravilhosa. Emite sinais de perigo, algo assim. Serve de consolo a afilhada de São Sebastião, a certeza de não ser a única no Brasil onde o que mais falta, e aumenta a procura, é uma coisa chamada governança.

Para os íntimos, falta de gestão administrativa e competência gerencial naquilo que projeta, orça, faz e presta conta corretamente ao Tribunal de Contas da União (ou estadual) e a opinião pública. O descuido, a despreocupação e a falta de interesse em buscar sintonia e melhor aplicar orçamentos e benesses às comunidades é uma tônica progressiva e constante nas prefeituras e administrações regionais, em grande parte das regiões brasileiras.

As cidades se agigantam, crescem vertical e horizontalmente, mas poucas são aquelas que buscam ampliar conhecimentos técnicos, aprimorar métodos de atendimento comunitário, buscando eficiência e opções que resultem em redução de gastos, sem privar o cidadão do conforto e da segurança a que tem direito. Poucas, ou pouquíssimas, são as regiões que Brasil afora praticam, ou sabem de fato o que representa exercer exatamente o que pede a prática da governança. Ou seja, a prática da administração correta para uma infinita lista de atividades necessárias e imprescindíveis a todas as comunidades.

Dedicado a essa causa, quase de que de forma sacerdotal, o ministro do Tribunal de Contas da União João Augusto Ribeiro Nardes, em palestra recente durante o Global GRC SUMMIT Brasília 2025, na sede o TCU, frisou que essa preocupação “é um farol de segurança e peça fundamental para o sucesso esperado de todas as administrações”. Segundo ele, uma cartilha obrigatória que todos os gestores deveriam seguir, mas ainda ignorada por muitos.

A governança arregimenta valores, informações, conteúdos técnicos e modernos a todos os segmentos necessários e de variados benefícios a quem dela se utiliza. Nardes lembra também que, peregrinando pelo Brasil de todas as crenças partidárias e ideológicas, constata o interesse das administrações em melhor se informar sobre os benefícios que a governança, se bem aplicada, podem se reverter em conforto e funcionalidade de inúmeras administrações.

O Brasil burocrático, segundo especialistas, ainda carece de melhor aproveitamento e da prática da governança como alavanca de sustentação e suporte para uma condução desse mecanismo, e dele se aproveitar.

Administrar uma comunidade, gerenciar cidades e municípios requer também habilidades operacionais, sintonia com o Estado e ter independência e coerência junto ao cidadão.

José Natal é jornalista com passagem por grandes veículos de comunicação como Correio Braziliense, TV Brasília e TV Globo, onde foi diretor de redação, em Brasília, por quase 30 anos. Especializado em política, atuou como assessor de imprensa de parlamentares e ministros de Estado e, ainda, em campanhas eleitorais