Flávio Bolsonaro aposta no lema ‘desunidos venceremos’
Foi-se o tempo em que políticos responsáveis levavam a sério assumir a condição de ser candidato à Presidência da República, cargo mais importante que um cidadão pode ocupar em seu país. Como se isso fosse uma brincadeira entre amigos, ou quem sabe uma reunião escolar para definir quem organiza uma festa junina, o senador Flávio Bolsonaro anuncia ser o indicado pelo pai para ser o futuro presidente do Brasil.
Entre risos e ironias, se diz habilitado para o cargo, admitindo também que pode abrir mão da opção, afirmando que para que isso aconteça cobrará um preço.
Nada mais bizarro e patético, deixando claro que, para ele, que se danem o idealismo, o sentimento patriótico, compromissos com a população, fidelidade partidária com quem quer que seja, pouco preocupado com ações atuais e consequências futuras.
Ato contínuo, a campanha de Lula 2026 agradece o apoio e o incentivo ao quarto mandato. Quando nada mais se espera de surpresas da família Bolsonaro, elas aparecem num piscar de olhos, inesperadas. De uma tacada só, o senador conseguiu a proeza de irritar amigos, colegas de partido, lideranças no parlamento e todos os governadores aliados, que de pronto, com a hipocrisia peculiar, juram a ele amor eterno, até que as urnas os separem.
Claro que não estão fora dessa lista de descontentes pessoas ilustres como a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, sabedora do ocorrido pela imprensa, Ciro Nogueira, o senador que sabe tudo de todos, e ninguém sabe nada sobre ele; e ainda os irmãos Carlos, Eduardo e Renan, que não têm nada contra nem a favor, muito antes pelo contrário. Até agora (pelo menos até agora) o único que realmente se manifestou a favor, e sinalizou euforia, é Valdemar Costa Neto, um presidente de partido que não preside nada, não assume responsabilidades e há quem diga que ninguém o consulta sobre coisa alguma, ou alguma coisa.
Fatos como esse, badalados pela mídia como tem que ser, às vezes nos arremete para uma triste e lamentável realidade. Realidade cruel que mostra que a cada dia que passa o ambiente político mais se reveste de atitudes inconsequentes, descompromissadas com a sociedade, abraçadas a interesses pessoais e cada vez mais distantes daquilo que de fato o país precisa.
A ser verdade tudo isso que essa candidatura anuncia, claro está, mais uma vez, que Jair Bolsonaro, mesmo depois de tantas mazelas e atropelos que a vida o condena, parece não ter aprendido nada e aceita candidamente continuar a seguir essa trilha errática, robusta de incoerências. Salta aos olhos o amadorismo político, e o claro desejo de explicitar o revanchismo demonstrado nesta decisão, apostando numa absurda crença de que o nome Bolsonaro será a alavanca definitiva para uma consagração nas urnas.
Em outras circunstâncias, talvez, essa opção seria válida, não há como negar os fatos. Na situação atual, e de acordo com o que acontece ao redor desses personagens, a decisão resvala na imaturidade e em devaneio amador. Resumindo o estrago, a direita lamenta a postura do Capitão, que, abrindo as asas de proteção à família, ignora a fragilidade eleitoral do protegido, e abre um flanco que a esquerda agradece, e comemora.
Com sorriso amarelo e com a decepção estampada na face, o único candidato com real chance de competir com Lula em 2026, o governador Tarcísio de Freitas, entuba a decisão, engole seco e anuncia apoio ao padrinho político, razão de sua existência.
Timidamente, esboça um sorriso e balbucia, com timidez “que também temos outros candidatos da direita”. Fosse tudo isso uma peça teatral, seria um erro fechar as cortinas sem deixar para o público a mensagem subliminar, de que na política, como na arte, a qualidade nas interpretações é valiosa, decisiva.
Todo esse cenário mal engendrado, tendo como diretor de operação Jair Bolsonaro, pode acabar não rendendo nada para quem visa alguma forma de sair no lucro. Evidente que, para arruaceiros despreocupados com nada e com coisa alguma, não há dúvida que há frutos a colher. Alguns apodrecidos, mas a vida é assim… fazer o que…
José Natal é jornalista com passagem por grandes veículos de comunicação como Correio Braziliense, TV Brasília e TV Globo, onde foi diretor de redação, em Brasília, por quase 30 anos. Especializado em política, atuou como assessor de imprensa de parlamentares e ministros de Estado e, ainda, em campanhas eleitorais
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