Os planos nacionais do Partido Social Democrático (PSD) de ampliar a presença pelo país afora com foco nas eleições presidenciais de 2026, especialmente diante da possibilidade de lançar o governador do Paraná, Ratinho Júnior, como candidato ao Palácio do Planalto, vêm produzindo efeitos diretos no cenário político do Distrito Federal.
Um deles é a filiação do ex-governador José Roberto Arruda ao partido. O movimento, oficializado em Brasília no último dia 15 de dezembro, após convite do presidente nacional da legenda, Gilberto Kassab, referendou a intenção de Arruda de disputar o governo local.
Se confirmado, o projeto poderá ter reflexos nos planos do atual governador, Ibaneis Rocha (MDB), que deve tentar uma vaga ao Senado Federal, e de sua vice, Celina Leão (PP), nome natural à sucessão do emedebista.
O movimento ainda cria embaraços a aliados do atual grupo governista, como o atual presidente do diretório regional do PSD, o ex-governador e ex-senador Paulo Octávio, que mantém boa relação com Arruda. “Sempre soube que o projeto do [Gilberto] Kassab era de fortalecer o PSD e lançar candidaturas majoritárias em 2026. Seria incoerente eu brigar contra isso. Arruda tem experiência, tem capacidade, mas meu filho está no governo [Ibaneis] e eu já declarei apoio à Celina no ano que vem”, afirma Paulo Octávio.
Controvérsias
A eventual candidatura de Arruda ainda depende de decisão da Justiça Eleitoral, que em 2014 o impediu de concorrer. Com ao menos cinco condenações que o tornam inelegível, todas decorrentes de processos relacionados à Operação Caixa de Pandora, durante a qual foi preso, Arruda diz estar seguro de que conseguirá ser candidato.
Em seu favor, Arruda cita mudanças recentes no texto da Lei da Ficha Limpa sancionadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Eu serei candidato. A sanção do presidente Lula garante que eu possa disputar”, diz o ex-governador.
Professor de direito eleitoral pela USP (Universidade de São Paulo), o jurista Renato Ribeiro de Almeida considera a possibilidade do retorno do ex-governador para a corrida ao Buriti. “É prematuro falar em inelegibilidade ou elegibilidade antes do registro. Até porque só é aferido se o candidato está elegível ou não, por parte da Justiça Eleitoral, no momento desse registro”, disse. A definição deve ocorrer apenas em agosto.
Mesmo se houver chancela judicial, Celina Leão diz não temer a disputa. “Arruda tem altíssima rejeição e sabe de todos os riscos dessa candidatura”, disse ela ao PlatôBR. A vice-governadora aposta nos resultados da atual gestão com chave para para a possível disputa e, ainda, na relação próxima com a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL), que deve fazer dobradinha com Ibaneis para o Senado. Além disso, Celina mantém um bom trânsito com caciques da direita e do Centrão para garantir viabilidade à própria candidatura.
Esquerda ou direita?
Arruda, por sua vez, tenta ocupar um espaço mais híbrido. O ex-governador mantém sinalização para os eleitores bolsonaristas, maioria no Distrito Federal, sem romper pontes com os simpatizantes do presidente Lula. “Sou um político de centro-direita. Sou liberal na economia, mas também defensor de políticas sociais”, afirma o ex-governador, que chegou a ser preso em 2010, em pleno exercício do mandato, sob a acusação de subornar uma testemunha das investigações da Operação Caixa de Pandora, destinada a apurar um esquema de corrupção no governo local.
A mais recente pesquisa da Real Time Big Data, divulgada no início de dezembro, aponta Celina Leão liderando as intenções de voto para o governo do Distrito, com 40%, enquanto Arruda aparece com 21%. Leandro Grass (PT) surge em seguida, com 13%. Ricardo Cappelli (PSB) tem 6%, empatado tecnicamente com Paula Belmonte (PSDB).
A rejeição a Arruda é grande. Na mesma pesquisa, 53% dos entrevistados disseram que não votariam nele “de jeito nenhum”. Celina Leão tem 27% de rejeição, enquanto os demais oscilam entre 24% e 20%. A margem de erro é de três pontos percentuais, para mais ou para menos.
