Michelle de Paula Firmo Reinaldo Bolsonaro, nascida em 22 março de 1982 na cidade satélite de Ceilândia, periferia de Brasília, é casada com o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro desde o ano de 2007. Aos 43 anos, entre alguns afagos, ironias e sem aplausos, coloca seu nome na prateleira política do país, esboçando um silêncio barulhento que, gostem dela ou não, muitos vão ter que a engolir. Os sinais de rejeição ao nome de Michelle, emitidos pelos filhos do Capitão, são explícitos.

Alguns com extrema picardia e geralmente em eventos rebuscados, onde jogar praga no inimigo torna a chance de proliferação sempre alta. Está vivo na memória de quem, de longe ou de perto, acompanha essa escalada de insinuações e troca de farpas entre a ex-primeira dama e todos os homens do presidente, no caso aqui representados pelo quarteto fantástico, Flávio, Eduardo, Carlos e Jair Renan. Não necessariamente nessa ordem, dia sim dia não, alguma coisa acontece envolvendo essas cinco figuras, cuja pauta em debate quase sempre termina numa imensa e hipócrita lista de pedidos de desculpas.

Eles fingindo sinceridade, e Michelle fingindo acreditar. Aos olhos e ouvidos dos admiradores, que vamos aqui apelidar de eleitores, essa farsa de sucessivas declarações de amor e ódio não cola. É inconsistente, oportunista e caminha para que, em breve, acabe por apresentar aos personagens dessa peça fajuta um resultado pífio, sem credibilidade e vazio, uma vez que são latentes e similares os interesses individuais.

Para os mais antenados aos movimentos políticos dos últimos meses, o anúncio feito pelo senador Flávio Bolsonaro, se lançado candidato à Presidência da República, a pedido do pai e praticamente sem consultar mais ninguém, escancarou, sem rodeios, o sabido mal-estar que reina e domina (ou contamina) tudo ao redor do que foi um dia (ou, talvez, tenha sido) um ambiente de suposta liderança e comando do patriarca, hoje encarcerado, com saúde precária e com sucessivos ataques de nervos. A primeira manifestação de irritação e revolta sobre como tudo foi feito surgiu, como era esperado, de Michelle Bolsonaro, esposa do Jair condenado, e que esperava dele no mínimo um gesto de confidência, ou quem sabe uma consulta, particular ou profissional.

Michelle, para a ira dos bolsonaristas à sua volta, tem seu desempenho a frente do PL Mulher apontado como positivo, e seu nome bem avaliado pelas pesquisas. E, para o agrado dos evangélicos e do eleitorado feminino, sua presença em praça pública junto aos seus não decepciona. Essa performance da ex-primeira-dama, segundo dados oficiais, a credencia a opinar sobre os rumos do partido e posições políticas, e com isso reivindicar considerações publicamente negadas a ela.

Para os mais próximos, seu partido (PL), aliados estaduais e, principalmente, os filhos do Capitão e o próprio Bolsonaro, estão negando a ela as evidências, e como diz a música, está ficando difícil dizer que não. Nada mais insuportável e constrangedor para a sociedade machista brasileira ( e talvez do continente) do que admitir, aceitar e se curvar diante de sinais de competência, liderança e poder de convencimento que a mulher exerce hoje sobre todos os segmentos da comunidade ativa e atuante. Trazendo na bagagem e no histórico de vida pessoal uma série de contradições, algumas bastante questionáveis, a líder do PL encara de frente situações em que em outras oportunidades muitas recuaram, e admitiram fragilidade e sem forças para um embate maior.

É de conhecimento público, e com amplo destaque da mídia, que o nome da ex-primeira dama, em várias regiões do país surge como o preferido para ocupar uma chapa que dispute a presidência, ou ainda que faça parte como vice de algum outro nome. Também para o Senado, representando a capital da república, Michelle tem seu nome citado com respaldo e possibilidades reais de disputa. Isso é fato, não é especulação.

O curioso, ou quem sabe intrigante, é que não há entre os já assumidos postulantes à candidatura presidencial da direita nenhum nome, até o momento, que possa ser pinçado como favorito, ou mesmo que esteja distanciado nos índices de pesquisas até o momento alcançados por Michelle Bolsonaro.

Ao contrário, em algumas circunstâncias ela ocupa melhor cotação, lidera com folga a preferência de grupos e escanteia, solenemente, nomes com mais tempo de estrada, com poder aquisitivo robusto, e que recebem de seus partidos e aliados bem mais atenção e apreço. É fácil constatar essa realidade, basta visitar sites especializados e os números registrados pelos institutos que acompanham o processo.

Esse, digamos, atrevimento de Michelle Bolsonaro ao ter seu nome à frente de caciques como Romeu Zema, Ronaldo Caiado, Ratinho Júnior, e incomodando a até então a tranquilidade de liderança de Tarcísio de Freitas, nos arremete para um cenário cada vez mais ansioso pela presença dela, disposta a pagar pra ver. Amigos, e políticos que circulam à sua volta, assumidamente ou preferindo o anonimato, fazem sobre ela os mais diferentes comentários.

Os mais agressivos, na moita, apostam na sua cara de pau e coragem ao não se negarem a entrar numa arena, onde o universo feminino é discriminado, reprimido e desprestigiado. A análise de aliados, tidos como mais ponderados, fazem a ela um elogio pouco convincente, deixando claro que ainda assim procedem unicamente por receio das reações que possam vir de Bolsonaro.

O ano chega ao fim, as especulações sobre candidatos e candidaturas ganham corpo e a comunidade, como sempre faz, começa a especular e observar melhor o dia a dia daqueles que se apresentam, e sabem que serão avaliados silenciosamente ou de forma escancarada. Para os que a rejeitam, Michelle arrisca um sonoro….vão ter que me engolir.

José Natal é jornalista com passagem por grandes veículos de comunicação como Correio Braziliense, TV Brasília e TV Globo, onde foi diretor de redação, em Brasília, por quase 30 anos. Especializado em política, atuou como assessor de imprensa de parlamentares e ministros de Estado e, ainda, em campanhas eleitorais