Em seu quebra-pau público com o governo Lula em torno da dívida de Minas Gerais com a União, estimada em módicos R$ 165 bilhões, Romeu Zema rebateu a fala do presidente segundo a qual só Jesus Cristo negociaria nos moldes em que ele tratou. Zema disse que Cristo, na realidade, perdoaria a dívida e não cobraria juros “abusivos”.
Levando a comparação do governador para as contas mineiras, pode estar no exemplo de Jesus a explicação para a generosidade de Zema nas isenções fiscais no estado — apesar da imensa dívida.
Só neste ano, os benefícios fiscais em Minas devem chegar a R$ 21,8 bilhões, número que, estima-se, atinja R$ 95,1 bilhões até 2028.
Conselheiros do Tribunal de Contas do Estado já criticaram publicamente a política de isenções. “Será que esses benefícios, que ultrapassam dois dígitos, têm gerado benefício para a população de Minas Gerais?”, questionou o conselheiro Agostinho Patrus, em setembro de 2024. Pelos lados do governo Zema, a alegação é a da guerra fiscal: as renúncias ajudam a manter e a atrair ao estado empresas e os empregos gerados por elas.
Entre os setores beneficiados está o de locação de carros, que tem financiadores de campanha do governador.
Desde 2003, as empresas do setor pagam 1% de IPVA em Minas, enquanto a alíquota ao contribuinte no estado é de 4%. Em 2017, o governo Fernando Pimentel sancionou uma lei que obrigava as locadoras a pagar a diferença de 3% ao colocarem seus veículos usados à venda. A gestão Zema sancionou em julho de 2023 uma lei aprovada pela Assembleia que dispensa as locadoras de pagarem o valor complementar a partir de então.
Na eleição de 2022, os sócios da Localiza Salim Mattar, Eugênio Mattar, Antônio Cláudio Brandão e Flávio Brandão doaram R$ 5 milhões à campanha que reelegeu Romeu Zema. O valor equivaleu a 29% do total arrecadado pelo governador mineiro.