Em sua nova postura de estabelecer uma relação mais próxima com a imprensa, com entrevistas quase diárias, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tentou aplacar a curiosidade e as especulações sobre as mudanças que fará na Esplanada dos Ministérios nos próximos meses. A tentativa, orientada pelo novo ministro da Secom (Secretaria de Comunicação), Sidônio Palmeira, no entanto, não acalmou a bolsa de apostas das trocas e, hoje, o sentimento de ministros palacianos e auxiliares próximos é de que Lula não deve anunciar uma reforma ampla, única, mas a conta-gotas.
A ideia é de que o petista comece pela chamada cozinha do Planalto, mexendo na SRI (Secretaria de Relações Institucionais), hoje com o ministro Alexandre Padilha (PT-SP), e na Secretaria-Geral da Presidência, ocupada pelo ministro Márcio Macedo. Uma troca palaciana já foi feita por decisão do presidente, a nomeação do publicitário Palmeira para o lugar de Paulo Pimenta (PT-RS).
Depois de fazer as mudanças nos postos mais próximos de seu gabinete, no Planalto, a expectativa é que Lula comece a mexer nas pastas do PT com a lógica de acomodar partidos do Centrão, segmento político que confirmou seu domínio na Câmara e no Senado com a eleição de Hugo Motta (Republicanos-PB) e Davi Alcolumbre (União Brasil-AP).
Um lugar para Macedo
A ida de Gleisi Hoffmann para o lugar de Macedo é dada como certa e, de acordo com pessoas próximas, ele pode assumir alguma órgão governamental, possivelmente o Ibama (Instituto de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), presidido hoje por Rodrigo Agostinho (PSB-SP). Macedo não tem mandato e, muito ligado a Lula, é visto como alguém capaz de executar prontamente tarefas pedidas pelo presidente - já executou várias, inclusive desistindo de uma candidatura ao Senado nas últimas eleições, para cuidar das contas da campanha.
O Ibama é o órgão responsável por liberar ou não a exploração de petróleo na foz do Rio Amazonas, assunto que divide o governo mas que tem em Lula um defensor. Agostinho construiu sua história política forjada na luta ecológica, em defesa da preservação, e é mais alinhado à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (Rede-AC), contrária à liberação. Hoje, enquanto Lula já trata a exploração como certa, Agostinho diz que a decisão é meramente técnica e espera um parecer dos técnicos do órgão que deve ser concluído em março.
Articulação
Já na articulação do governo, duas teses ganharam força nesta semana. Uma delas é passar o lugar de Padilha para para o Centrão e, nesse caso, os dois nomes mais cotados são o do atual ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho (Republicanos-PE), e o do atual ministro da Pesca, André de Paula (PP-MA). Costa Filho é do mesmo partido de Hugo Motta, com quem o governo deseja manter proximidade. Ele é filho do ex-deputado Silvio Costa, amigo de Lula. André de Paula é do mesmo partido de Arthur Lira (PP-AL), ex-presidente da Câmara. O governo acredita que Lira ainda tenha bastante influência sobre os deputados e, com isso, acha bom agradá-lo.
Outra possibilidade é que a articulação seja mantida com o PT. Dois nomes são citados: o do atual líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), habilidoso político e com bom trânsito em partidos do Centrão e o atual líder na Câmara José Guimarães (PT-CE), que também tem bom diálogo com os parlamentares de centro.
Com Wagner nas Relações Institucionais, Lula poderia liberar o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) para a reforma. Isso porque o atual ministro da pasta, Wellington Dias (PT-PI), retornaria ao Senado como líder do governo e não apenas como um senador. Já a ideia de colocar Guimarães na chamada "cozinha do Planalto" serviria a outro plano de Lula: o de eleger o ex-prefeito de Araraquara Edinho Silva (PT-SP) presidente do PT. É que Guimarães e Gleisi são os principais articuladores de uma candidatura alternativa à de Edinho no PT.
Saúde
Apesar de Lula ter reforçado seu apoio à ministra da Saúde, Nísia Trindade, em uma viagem ao Rio de Janeiro nesta quinta-feira, 6, para anunciar a entrega da gestão de hospitais federais, ainda são fortes no Planalto os rumores de que poderá haver uma troca. Um dos cotados é o ministro Alexandre Padilha, que já comandou a pasta no governo de Dilma Rousseff. Existe a avaliação de que Nísia não exibiu suas entregas na pasta e o governo hoje se preocupa em dar visibilidade aos feitos, principalmente na Saúde e na Educação, de onde o publicitário Sidônio deseja tirar marcas para serem trabalhadas na campanha de 2026.
Outro cenário envolve colocar de volta na Saúde Arthur Chioro, atual presidente da EBSERH (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares), que cuida da gestão de todos os hospitais ligados a universidades federais. Trata-se de um quadro técnico, como Nísia, que conta com a simpatia de Lula e que já geriu o ministério em 2014 e 2015. Atualmente, o nome de Chioro conta com padrinhos importantes dentro do Palácio do Planalto, como o ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT-BA), e a secretária-executiva dele, Miriam Belchior (PT-SP). Já Padilha tem o apoio de Guimarães e Wagner para que deixe o Planalto e siga para a Saúde - justamente os nomes do PT que poderiam assumir a cadeira dele na Secretaria de Relações Institucionais.
Evangélica na Esplanada
Palacianos concordam que a dança das cadeiras começará por esses cargos. Nas mudanças que atingem o PT há grandes chances de sair a ministra da Mulher, Cida Gonçalves (PT-MS). Cida é um quadro político que conta com o apoio da primeira-dama, Janja da Silva, mas que enfrenta na pasta denúncias de assédio moral, o que pode gerar desgaste para o governo. Para seu lugar, um nome cogitado é o da atual ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos (PCdoB). Seria também uma oportunidade de se liberar um ministério com um orçamento melhor para acomodar legendas do Centrão.
Outra ideia que tem ganhado força é de que Lula escolha para o cargo uma mulher com um perfil mais conservador, e até que seja capaz de fazer um diálogo com o segmento evangélico, com o qual o presidente tem dificuldade na disputa com seu rival Jair Bolsonaro. Lula também poderia optar por uma mulher que tivesse mais afinidade com temas econômicos para levar a pasta a pensar em políticas de incentivo ao empreendedorismo feminino, por exemplo, e defender o legado do governo de defesa da lei da igualdade salarial entre homens e mulheres.
O problema é que a entrega de uma pasta como a de Mulheres nas mãos de conservadores poderia sair caro demais às conquistas feministas, avaliam integrantes do governo. É, portanto, uma equação difícil de ser resolvida.