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Senso de urgência: o outro fator que move a reforma ministerial de Lula

Com pressa, presidente dá broncas públicas em ministros e auxiliares e cobra resultados e entregas. Essa lógica vai determinar as trocas que serão feitas, em breve, na Esplanada

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O presidente Lula perdeu a paciência e deu uma bronca pública em sua equipe, em julho do ano passado,  ao discursar em um evento em Brasília para anunciar investimentos para catadores de materiais recicláveis: “Eu vou terminar o meu mandato e não vou conseguir um púlpito em que a gente consiga colocar um copo aqui em cima e não tenha que ficar procurando o copo embaixo”, reclamou, ao se ver obrigado a parar de falar e abaixar-se para tentar achar o copo de água.

“Eu estou reivindicando um púlpito há um ano e meio. Toda vez que eu falo, o Stuckinha (Ricardo Stuckert, secretário de Audivisual da Secretaria de Comunicação da Presidência e fotógrafo oficial do presidente) diz que está pronto”, protestou. Em seguida, o presidente dirigiu-se ao ministro da Secretaria-Geral, Márcio Macêdo, e clamou: “Márcio, um púlpito, pelo amor de Deus!”. No evento seguinte no Palácio do Planalto, enfim, um marceneiro foi chamado.

Lula já estava impaciente. E continua. Tem reclamado com assessores próximos. Queixa-se de tudo aquilo que considera descuido, deslize ou imperfeição.

Em janeiro, em conversa informal com jornalistas enquanto caminhava no Palácio do Planalto observando fotografias da galeria dos ex-presidentes, ele cobrou de assessores por que no painel não havia legendas para contar a história da eleição de cada um deles.

Queria que fosse contado e explicado aos visitantes do palácio que a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) “foi eleita, reeleita e depois sofreu impeachment”, que Michel Temer (MDB) “não foi eleito e tomou posse em função do impeachment da Dilma” e que Jair Bolsonaro (PL) teria sido eleito “em função das mentiras”. Lula disse aos assessores que “a pessoa tem que saber o que aconteceu no país” e exigiu uma "reforma" no painel de fotografias.

Segundo pessoas próximas, Lula agora tem pressa para fazer as coisas acontecerem e tem cobrado de seus ministros e auxiliares em todos os escalões do governo resultados e "entregas". Para além da preocupação com os arranjos partidários destinados a dar sustentação ao governo nesta sua reta final, a preocupação com a eficiência é um dos objetivo de outra reforma em preparação no Planalto - a reforma ministerial, que pode ser anunciada antes do Carnaval, conforme integrantes do governo.

Para quem conviveu com o presidente em seus dois primeiros mandatos, há uma diferença clara na atual gestão: um senso de urgência, uma vontade maior do presidente “de realizar, de fazer acontecer”. Lula quer dar respostas às promessas de campanha, às reivindicações de eleitores e da população em geral e, ainda, tentar neutralizar as críticas dos opositores. Quer que tudo que ficou pendente seja resolvido agora dentro do menor tempo possível. Cobra também um acompanhamento sistemático da aplicação das verbas federais.

Integrantes do governo relatam que Lula diz entender que nos dois primeiros anos da gestão projetos foram gestados, elaborados e até podem realmente ter exigido um tempo até sua consolidação. Só que, a partir de agora, precisam ser anunciados e entregues. O presidente está de olho, claro, em 2026, ano de eleições para o Planalto, e quer saber o que seu governo terá a apresentar aos eleitores na busca para tentar garantir a reeleição.

O marqueteiro de sua campanha presidencial de 2022, Sidônio Palmeira, tornou-se o novo ministro da Secom, em substituição a Paulo Pimenta, deputado federal pelo PT, com a missão clara: fazer chegar à população as realizações do governo. “A comunicação do governo tem de chegar na ponta, na população”, Sidônio tem repetido aos colegas ministros, dos quais também cobra a divulgação de suas ações nas redes sociais.

A ordem do Planalto é que esse processo passe pelo crivo do marqueteiro-ministro, que tem a missão de embalar o que tem para ser apresentado na forma de anúncios com apelo para o público. Na reforma ministerial, esse é um dos fatores em jogo: quem estiver afinado com o senso de urgência de Lula deve sair, e os que chegarem precisarão mostrar resultados.

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