Ao aceitar ser ministra do Meio Ambiente do terceiro governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Marina Silva não esperava ter que passar novamente pelo constrangimento de se calar diante de um tema tão sensível do ponto de vista ambiental como a exploração de petróleo na foz do rio Amazonas.
Ao voltar para a pasta que deixou em 2008, rompida com Lula e com o PT, Marina confiava que tudo seria diferente. Lula teria mudado de postura em relação ao meio ambiente e não mais arbitraria conflitos priorizando aspectos econômicos em detrimento da preservação ecológica.
O tema tem repercussão internacional e provoca desconforto entre Lula e a ministra, e isso ocorre no ano da COP-3o (Conferência da Organização das Nações Unidas sobre o Clima, marcada para novembro, em Belém.
Nesta sexta-feira, 14, Lula decidiu falar por Marina. Ao dizer que ela "jamais seria contra" a exploração de petróleo na margem equatorial por ser "uma pessoa inteligente", ele tirou da ministra, uma das personalidades mais respeitadas internacionalmente no campo ambiental, a chance de se manifestar livremente sobre o assunto. Talvez tenha até tirado a chance de os brasileiros conhecerem a opinião dela. Afinal, se Marina for contrária à exploração, seria uma pessoa desprovida de inteligência?
Desde que se reuniu com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), que tem interesse na exploração a ser feita pela Petrobras, Lula passou a fazer pressão pública pela liberação da licença que está hoje nas mãos do Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis). Chegou a acusar o órgão, hoje sob a gestão de Rodrigo Agostinho, de fazer "lenga-lenga".
Agostinho é aliado de Marina e chegou ao órgão contando com a articulação da ministra. Marina, por sua vez, tenta se desvencilhar do tema dizendo que a decisão de explorar ou não cabe ao CNPE (Conselho Nacional de Politica Energética), presidido pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira.
Nesta sexta, 14, Marina manteve sua conhecida posição. Em discurso, defendeu ferrenhamente a necessidade de se fazer a transição para o fim da exploração dos combustíveis fósseis. Pela maneira como expressa seus argumentos na defesa ambiental, Marina é vista como radical não só dentro do governo, mas também por deputados e senadores, que resistem a dialogar com a ministra.