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PT e governo precisam fazer ‘transição digital’ e dialogar com igrejas, diz ministro

Um dos integrantes do primeiro escalão mais próximos de Lula, o petista Paulo Teixeira afirma que partido precisa modernizar comunicação para não ficar atrás dos rivais. Para ele, governo enfrenta desafio semelhante

Foto: Daniel Medeiros/PlatôBR
Foto: Daniel Medeiros/PlatôBR

Quadro histórico do PT e um dos integrantes do primeiro escalão do governo mais próximos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, é mais um integrante do partido a fazer uma autocrítica a partir do desempenho petista nas urnas nas eleições municipais deste ano.

Embora considere que a “base de Lula” saiu vencedora da corrida eleitoral deste ano e rechace a ideia de que o PT ficou na “zona de rebaixamento”, como declarou seu colega ministro e correligionário Alexandre Padilha (Secretaria de Relações Institucionais), Teixeira afirma que o PT e o governo precisam “fazer a transição” para a política no mundo digital.

O ministro defende ainda que o partido dialogue com as religiões e se fortaleça em uma seara que, nos últimos anos, foi dominada pelo bolsonarismo.

Com base eleitoral no estado de São Paulo, Paulo Teixeira defende a cassação do registro de candidatura de Ricardo Nunes (MDB), reeleito prefeito na capital paulista, em razão da declaração do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) associando, no dia do segundo turno, a candidatura do rival Guilherme Boulos (PSOL) à facção criminosa Primeiro Comando da Capital. Para ele, foi um ato de abuso de poder que merece ser punido pela Justiça.

Sobre o futuro político do aliado Boulos, o ministro diz que, para se viabilizar para as eleições de 2028, ele precisará seguir os passos da história de Lula, que após perder eleições corrigiu rumos e construiu alianças para ganhar. E terá de corrigir também a postura do próprio PSOL, que, nas votações na Câmara Municipal, terá que “fazer uma trajetória de quem quer governar São Paulo”.

Teixeira foi o convidado desta terça-feira, 29, do PlatôBR Entrevista (assista aqui). Ao falar dos riscos à democracia no Brasil e das investigações dos atos antidemocráticos que correm no Supremo Tribunal Federal (STF), ele defendeu a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro, que considera o “grande mentor da tentativa de golpe”. A seguir, os principais trechos:

Transição do PT para o digital
“Nós temos que fazer uma transição para uma comunicação e uma disputa digital. Aqueles do PT que fizeram essa transição foram bem. Mesmo a Natália Bonavides, que não ganhou em Natal, fez essa transição para uma comunicação digital, e foi bem. O Nabil Bonduki, que tem 70 anos, (candidato a vereador) em São Paulo, fez a transição para uma comunicação digital e foi bem."

Avaliação negativa do governo
“Acho que tem dois aspectos que são importantes. O primeiro aspecto é que a gente consiga comunicar melhor as nossas realizações, porque muitos dos beneficiários (de programas federais) não sabem da autoria das realizações. Em segundo lugar, nós temos que melhorar os programas nesses dois anos restantes do governo do presidente Lula. Eu acho que isso está sendo resolvido. Por exemplo, eu sei que a Secom (Secretaria de Comunicação da Presidência da República) não tem nenhum contrato para as redes digitais. Então, nós estamos falando com os velhos meios de comunicação, não estamos falando com os novos. Parece que esse contrato está sendo licitado e vai começar a funcionar agora.”

‘Base do governo ganhou’
“Na política nacional, quem ganhou, o Lula ou o seu opositor, que é o Jair Bolsonaro? Foi o Lula. A base do Lula ganhou as eleições. Por exemplo, para quem o Fuad (Noman, prefeito reeleito de Belo Horizonte) fez campanha na eleição passada? Para o Lula, em Belo Horizonte. Para quem o Eduardo (Paes, prefeito reeleito do Rio) fez campanha? Para quem ele fez campanha na eleição passada? Para o Lula. Está certo ou não? Tem também o João Campos (reeleito em Recife).”

Reeleição e emendas
“Os prefeitos se reelegeram. Por que eles se reelegeram? Por conta de três aspectos que eu julgo importantes. O primeiro deles é que a economia vai bem. Então, se vai bem, o poder mais direto, mais perto do cidadão, é a prefeitura. A economia indo bem, a prefeitura vai bem. E remeto a um segundo fator, as finanças municipais foram reestruturadas pelo governo do presidente Lula. Ele fez uma reestruturação da divisão do ICMS, e isso fez com que as prefeituras recompusessem as suas finanças. Então, as prefeituras também estão bem do ponto de vista financeiro. Um terceiro fator é o fator das emendas Pix. Essa captura do orçamento pelo Centrão fez com que as prefeituras e seus candidatos tivessem muito dinheiro nesse período eleitoral.”

‘Extrema direita derrotada’
“A extrema direita foi derrotada. Quase que a extrema-direita passou para o segundo turno de São Paulo, ou seja, se o (Pablo) Marçal não tivesse feito aquela besteira na reta final (a publicação de um laudo falso associando Guilherme Boulos ao uso de drogas), teria ido para o segundo turno, seria derrotado no segundo turno. Mas a extrema direita foi derrotada no Brasil, em Belo Horizonte (com Bruno Engler), o Ramagem foi derrotado no Rio, o Marçal foi derrotado em São Paulo."

Padilha e ‘PT rebaixado’
“Essa ideia de rebaixamento do PT, do Padilha, como um bom corintiano, nem para o Corinthians vale. O Corinthians ganhou o jogo contra o Cuiabá e saiu da zona de rebaixamento. E o PT não está na zona de rebaixamento. Nós tivemos uma militância muito aguerrida que foi para as eleições, que perdeu a vergonha, porque estava sofrendo ataque por ser petista, pela bandeira vermelha, pela estrela. (A militância) perdeu a vergonha, foi e fez o combate. Na minha opinião, resta agora essa análise sobre uma política de alianças que talvez devesse ter havido mais fortemente nessas eleições.”

Diálogo com as igrejas
“Acho que precisamos intensificar o diálogo com as religiões, porque, no período passado, houve uma instrumentalização das religiões contra a gente, e isso precisa ser diminuído. Precisamos retomar o diálogo com as religiões, porque elas, muitas igrejas, também foram condutoras desse antipetismo e dos ataques, muitas mentiras que foram ditas contra nós.”

Derrota de Guilherme Boulos
“Discordo (de que Boulos bateu o teto de uma candidatura de esquerda e não conseguiu atingir o próprio eleitorado do Lula) e vou dizer por quê. Não é fácil disputar contra o prefeito da capital. Ele disputou contra o Bruno Covas em 2020 e disputou contra o Ricardo Nunes em 2024. Ter 40% dos votos é uma virtude e não é ruim. O Lula também disputou várias eleições e não se elegeu, mas fez uma trajetória de vencedor. Ele foi ampliando, foi construindo um partido de poder, de governo, e acho que isso o Boulos pode fazer também. O Boulos também pode fazer uma trajetória de poder."

Boulos, o PSOL e o exemplo de Lula
"Eu acho que o que ele (Boulos) pode fazer é dar uma ampliada no seu arco de alianças para uma próxima disputa, fazer uma eleição em que nós saímos juntos em 2028, e ele vai corrigindo. Ele tem que corrigir também um outro tema, que é o tema do partido. O PSOL, daqui para frente, a bancada do PSOL em São Paulo, toda a votação será vista para 2028. Agora, as votações do PSOL em São Paulo terão que ser muito discutidas, porque todas testemunharão a favor ou contra Guilherme Boulos para 2028. Acho que ele tem que fazer uma trajetória de quem quer governar São Paulo nesses próximos quatro anos."

‘Tem que pôr o chefe na cadeia’
"A democracia é aquela florzinha que tem que regar todos os dias e tirar o mato, tirar os pulgões que estão em volta dela para que possamos ter uma sociedade mais envolvida, porque é na democracia que a sociedade cresce. Eu acho que, agora, tem que pôr na cadeia todos aqueles que tentaram. Muitos estão presos, mas tem que pôr o chefe, o chefão deles na cadeia, que é o inelegível. Ele tem que não ficar só inelegível, mas ele tem que cumprir (pena). Espero que o processo chegue agora, que, passadas as eleições, possam concluir e puni-lo exemplarmente, porque ele foi o grande mentor daquela tentativa de golpe."

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