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Em Minas Gerais, Lula afaga o MST e se aproxima do PSD de Pacheco

O petista visitará o Quilombo Campo Grande, símbolo da briga do MST com Romeu Zema, e será recebido por prefeito do partido do presidente do Senado

Foto: Cadu Gomes/VPR
Foto: Cadu Gomes/VPR

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva atua em duas frentes em Minas Gerais para tentar avançar sobre o campo da direita, liderado no estado pelo governador Romeu Zema (Novo). Por um lado, o petista trabalha para o ex-presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), de perfil conservador, aceitar o desafio de se candidatar ao governo em 2026. Em outra direção, Lula atende a demandas do MST (Movimento dos Sem Terra) e, assim, reforça os laços com a esquerda mineira.

Zema também tem nome para sua sucessão, pois logo depois de reeleito lançou o vice-governador, Mateus Simões (Novo) para o próximo pleito. A disputa no ano que vem promete repetir a polarização ideológica que marcou as últimas campanhas em Minas Gerais.

Na próxima sexta-feira, 7, Lula visita o estado para uma programação que acena tanto para a esquerda quanto para o grupo de Pacheco. No município de Campo do Meio, 300 quilômetros distante de Belo Horizonte, o presidente terá um encontro no Quilombo Campo Grande com integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e, na ocasião, vai apresentar um balanço da reforma agrária em seu governo e anunciar crédito e assentamento para 12 mil famílias. Na cidade, será recebido com festa pelo prefeito, Samuel Azevedo Marinho, filiado ao PSD.

Histórico da terra
O Quilombo Campo Grande se tornou símbolo da briga do MST contra Zema. Depois de seguidos mandados de reintegração de posse não cumpridos,  Zema mandou a polícia executar durante a pandemia uma ordem de despejo dos agricultores. Os ocupantes da área resistiram e a polícia os atacou com bombas, helicópteros e armamento pesado.

Em outubro do ano passado, o STJ (Superior Tribunal de Justiça) determinou a impossibilidade de recuperação judicial da Companhia Agropecuária Irmãos Azevedo (Capia), antiga administradora da Usina Ariadnópolis Açúcar e Álcool S/A, que era proprietária da área na década de 1990, quando a empresa faliu, não pagou a indenização trabalhista dos funcionários, que ocuparam o terreno e passaram a plantar café. A violenta ação da polícia mineira durante a pandemia contra os agricultores rendeu ao estado uma denúncia na Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).

Para o encontro de sexta-feira, Lula mandou a equipe do Ministério do Desenvolvimento Agrário reunir tudo o que o governo realizou na reforma agrária. O objetivo do petista é se reaproximar do MST, que cobra ações mais concretas do petista. Em janeiro deste ano, o coordenador nacional do movimento, João Paulo Rodrigues, reuniu-se com o presidente em Brasília, e reclamou da atuação do ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira (PT-SP), e do programa de reforma agrária proposto pelo governo.

Rodrigues lembrou que só 3.500 famílias foram assentadas nos dois primeiros anos do terceiro mandato de Lula e considerou insuficiente o plano do governo de beneficiar 30 mil neste ano e mais 30.000 no ano que vem. O MST tem meta mais ambiciosa: reivindica o assentamento de, no mínimo, 65 mil famílias.

Polarização e prefeito do PSD
Em 2022, Lula teve uma vitória apertada sobre Jair Bolsonaro em Minas Gerais. Foram apenas 40.650 votos de diferença. O petista obteve 50,20% dos votos válidos, contra 49,80% obtidos pelo ex-presidente, reflexo da polarização política no estado. O grupo de Pacheco já chegou a fazer cálculos para sua possível candidatura considerando que, com o apoio do petista, poderia abarcar a maior parte desse eleitorado.

Os aliados do ex-presidente do Senado também contam com outro fator: a divisão entre o campo da direita no estado. Enquanto Zema está decidido a apresentar seu vice para a sucessão, o senador Cleitinho Azevedo (PSC) também anunciou que será candidato.

Apesar da estratégia de Lula de tentar levar a esquerda mineira para uma aliança com o centro, a posição de Pacheco, nome aceito pelo eleitorado moderado, ainda está indefinida. Lula quer oferecer uma pasta a Pacheco, mas entende que isso precisa se transformar em palanque. O senador, porém, não demonstra interesse em amarrar compromissos agora. Se for ministro, quer ter a liberdade de escolher ser ou não candidato.

Nesse sentido, a visita de Lula a Campo do Meio, além da reaproximação com o MST, também contempla um aceno ao grupo de Pacheco. O prefeito Samuel Azevedo Marinho, filiado ao PSD, anunciou com entusiasmo a ida do presidente ao município. O chefe do executivo local se refere à visita do petista como "momento histórico" e "grande festa". Em vídeo divulgado nas redes, Marinho disse que, no evento com Lula, será assinado um decreto para a desapropriação da massa falida da antiga usina Ariadnópolis para o assentamento das famílias do Quilombo Campo Grande. O encontro de sexta-feira será na Escola Popular de Agroecologia Eduardo Galeano, que teve as instalações destruídas na ação da polícia em 2020.

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