Não tocam diretamente nos partidos do Centrão os primeiros movimentos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na reforma ministerial, mas as trocas ocorridas até aqui dizem muito sobre a relação do governo com o grupo, majoritário no Congresso Nacional.
Até o momento, o presidente buscou arrumar a casa, levando Alexandre Padilha para o Ministério da Saúde e surpreendeu o mundo político ao alojar na SRI (Secretaria de Relações Institucionais) a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, que tomará posse no cargo na próxima segunda-feira, 10.
Essas trocas representam gestos do presidente aos seus aliados mais próximos. Lula tenta, por exemplo, resolver queixas do campo da esquerda, mais especificamente do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), que se ressentia de um gesto do governo na direção de pautas mais alinhadas com os movimentos sociais.
Ao mesmo tempo, ele manda recados para vários atores políticos e emite um sinal geral: o de que o governo é dele e, portanto, cabe a ele tomar as decisões, a despeito de eventuais descontentamentos na base aliada, incluídos aí os partidos do Centrão.
Foi daí que surgiram, em pleno feriado de Carnaval, as especulações de que o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) pode assumir a Secretaria-Geral da Presidência no lugar de Márcio Macêdo (PT-SE). Para os aliados do Centrão, a mensagem do presidente é a de que o governo que vai jogar com o time que tem, até que o grupo decida se vai caminhar junto com ele ao longo de 2025 e, ainda, na corrida presidencial de 2026.
"Time Lula"
O PSOL nega ter sido consultado sobre a possível ida de Boulos para o Planalto. Integrantes do partido dizem, no entanto, que a informação inicial teria partido de dentro do Palácio do Planalto.
Especulações à parte, a lembrança do nome de Boulos, o convite a Gleisi, o deslocamento de Padilha e os gestos ao MST têm em comum o desejo do presidente de dar o sinal de que ele resolveu, nas palavras de um petista, "cuidar do seu time".
Lula já demonstrou seu apreço por Boulos do alto do caminhão de som, em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos, no dia de sua prisão pela Lava Jato e ao apoiá-lo para a Prefeitura de São Paulo, a despeito dos planos do PT local. O nome do deputado não agrada 100% aos petistas, mas até para seu próprio partido o presidente estaria indicando que quem manda é ele.
Senso de oportunidade
O comportamento de Lula também dá resposta a um novo ambiente político sem a influência direta do deputado Arthur Lira (PP-AL), talvez o interlocutor mais ousado do Centrão, sem a ambição do governo em aprovar pautas imprescindíveis no Congresso e, ainda, com uma interlocução melhor com o novo comando da Câmara e do Senado.
Os partidos do Centrão estão contemplados na atual Esplanada de Lula e têm indicados seus em estatais e agências reguladoras, mas querem mais. Por outro lado, não têm garantido apoio incondicional nas pautas do Planalto em tramitação no Congresso.
A relação tem sido marcada por sinais dúbios. Ao mesmo tempo que não garantem sempre os votos no Parlamento, alguns de seus principais representantes tentam se mostrar próximos do presidente. É o caso do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), e do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). Ambos têm tido um diálogo bom com Lula. Ao mesmo tempo, uma parcela dos partidos que integram o grupo reivindica maior espaço na Esplanada.
Nos próximos meses, o governo dependerá do Congresso para aprovar propostas relevantes. O Orçamento de 2025, por exemplo, ainda está pendente. Outra prioridade do Planalto é a isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil.
Nessa relação também pesam as verbas bilionárias das emendas parlamentares, agora limitadas por uma série de decisões do ministro Flávio Dino, do STF, validadas em seguida pelos demais integrantes da corte. O Planalto entende que, nesse jogo, há espaço para endurecer com o Centrão.