Apartado da Igreja Católica pelos papas João Paulo II e Bento 16, o ex-frei Leonardo Boff foi reabilitado por Francisco, com quem manteve uma relação próxima e trocou correspondências secretamente.

Esta é a história que Boff contou a um jornalista alemão, em uma entrevista de 2016, três anos depois de Francisco se tornar o primeiro papa jesuíta e sul-americano da Igreja Católica.

“Francisco é um dos nossos. Ele transformou a teologia da libertação num bem comum da Igreja. E ele a ampliou”, disse Boff, teólogo, escritor e professor.

O ex-frei brasileiro é um dos principais nomes da teologia da libertação no mundo. E foi por causa dela que enfrentou perseguição dentro da própria Igreja.

Quem hoje fala dos pobres também precisa falar da Terra, porque é o grande pobre e também esta está sendo depredada e violada. ‘Ouvir o clamor dos pobres’ significa ouvir o clamor dos animais, das matas, de toda a criação torturada. A Terra inteira está gritando”, afirmou Leonardo Boff.

O brasileiro contou que Francisco citou, em um dos documentos históricos do papado, a “Laudato si'”, o título de um livro dele, afirmando que "hoje precisamos ouvir o grito dos pobres e ao mesmo tempo o da Terra. Ambos precisam ser libertos”.

Laudato si'” é uma encíclica com visão ecológica do Papa Francisco, publicada em 2015. Para produzir o material, segundo Boff, Francisco pediu sua ajuda.

“Ele me solicitou material para a ‘Laudato si'’. Eu o aconselhei e enviei algumas coisas que tinha escrito. Isso ele também utilizou”, afirmou Boff, que lembrou de uma orientação do Papa. ”Aliás, o Papa Francisco me disse: ‘Não mande a papelada diretamente para mim'.”

A correspondência não poderia cair nas mãos dos sottosegretari, funcionários do Vaticano, que a interceptariam. “Manda de preferência para o embaixador argentino, com quem tenho bons contatos. Então, com certeza, vou receber”, teria dito Francisco.

“É preciso saber que o atual embaixador no Vaticano é um velho conhecido do Papa, do seu tempo em Buenos Aires. Tomaram mate juntos muitas vezes. Um dia antes da publicação da Encíclica, o Papa ainda mandou ele ligar para mim para expressar seu agradecimento pela minha colaboração”, lembrou Leonardo Boff.