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A estratégia de Haddad de focar na comparação com Bolsonaro e Temer

Para sair da defensiva, ministro da Fazenda muda o discurso e passa a contrapor os números de sua gestão com o desempenho da economia dos governos anteriores

Fernando Haddad
Foto: João Risi/PR

A melhor defesa é o ataque. Seguindo a lógica do general, filósofo e estrategista chinês Sun Tzu, para quem a força se mostra bem mais abundante ao atacar do que ao se defender, o ministro Fernando Haddad (Fazenda) subiu o tom da sua fala, reforçou a ofensiva contra o governo de Jair Bolsonaro e sinalizou uma nova linha de narrativa oficial na economia.

Na última sexta-feira, 7, o ministro usou os cerca de 20 minutos de uma entrevista à rádio Cidade Caruaru, de Pernambuco, para contrapor os dados econômicos atuais aos da gestão anterior. Ao responder as seis perguntas que lhe foram feitas pelos entrevistadores, ele focou na comparação dos números do atual governo Lula com os anos de Bolsonaro e até de Michel Temer.

A ideia de fazer esse comparativo está ancorada na estratégia de justificar que o que não foi feito até agora pelo governo é porque o tempo foi pouco e a casa estava arrasada. “Tem muita coisa a fazer. Você não reconstrói um país em dois anos, mas comparado ao que a vida estava há dois anos, acho que o avanço é muito significativo”, afirmou.

Eis alguns exemplos da estratégia do ministro:

Salário mínimo
Questionado sobre o fato de que, apesar de o salário-mínimo registrar ganho real, mais de 40% do valor é comprometido apenas com produtos da cesta básica, que estão mais caros, o ministro foi direto para a comparação. “Você tem toda razão e há de lembrar que no Temer e no Bolsonaro o salário mínimo ficou congelado por sete anos”, afirmou. “Bolsonaro não deu R$ 1 (de reajuste)”, destacou, enfatizando que Lula retomou a política de valorização do salário mínimo, bem como corrigiu a tabela do Imposto de Renda, permitindo que uma maior quantidade de contribuintes ficasse na faixa de isenção. “Bolsonaro cobrava IR de quem ganhava dois salários mínimos”, emendou. “Agora Lula quer ampliar (a faixa de isenção de IR) para 5 salários mínimos.”

Preço dos alimentos e dólar
Para Haddad, a eleição de Donald Trump para presidente dos Estados Unidos foi responsável pela valorização do dólar no mundo. “O dólar está perdendo força. Isso também colabora para a redução dos preços dos alimentos”, analisou, apontando ainda uma safra maior e a atuação do Banco Central como fatores que devem ajudar na redução dos preços dos alimentos. “Mas você tem que levar em consideração a situação que o presidente Lula assumiu. Todos os preços, hoje, mesmo sendo elevado no último período em função desses fatores (seca, inundação no Rio Grande do Sul, dólar, eleição Trump) eles ainda estão abaixo do que o presidente Lula herdou do governo Bolsonaro."

Emprego e crescimento
“Estou aqui reconhecendo, e o PT é o primeiro a reconhecer, que temos muito a fazer e recuperar do que foi destruído”, disse Haddad. Na sequência, o ministro foi taxativo: “A economia cresceu 7% em dois anos. No período anterior levava 5 anos para crescer 7%. Não estou fazendo propaganda de números aleatórios. É a menor taxa de desemprego, maior geração de emprego, maior crescimento em dois anos, dos últimos dez anos.”

Combustíveis
A crítica à alta nos combustíveis também foi rebatida pelo ministro. “Despois da eleição do Trump teve uma disparada do dólar e você sabe que a gente importa gasolina e diesel. Isso tem reflexo no preço. Agora, de novo, compara com o preço de dois anos atrás. O preço hoje está mais baixo do que dois anos atrás.”

Incentivo à indústria
“A indústria teve maior crescimento dos últimos dez anos no ano passado: 3,1%”, comemorou o ministro. “A nossa indústria estava sufocada e a reforma tributária que aprovamos vai ajudar muito a indústria a exportar”, argumentou. “E o que era o principal problema dois anos atrás (do polo têxtil)? O Bolsonaro estimulou muito o contrabando. O contrabando de mercadorias foi muito estimulado por ele porque ele não fez nada para combater o contrabando.”

Juros
Haddad disse que a taxa de juros é o remédio para corrigir o repique da inflação, que deve ser ministrado na dose e no tempo corretos. “Em economia não existe um remédio para toda hora. É para aquela hora, e na dose certa. Isso tudo é porque você está conduzindo um organismo para uma estabilidade melhor. Ano passado, já corrigimos as distorções do déficit público. O déficit acumulado no governo anterior foi de quase R$ 2 trilhões.” Segundo o ministro, pessoas ricas foram “muito favorecidas com isenção de impostos”, que agora estaria sendo corrigindo. “Quem tinha um fundo num paraíso fiscal não pagava imposto no Brasil. E o governo anterior não teve a coragem de cobrar imposto de quem tinha fundo em paraíso fiscal. O governo Lula fez isso.”

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