O ex-ministro José Dirceu, o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha, o ex-vice-presidente da Câmara André Vargas. Nomes que já comandaram o PT, mas submergiram quando foram condenados nos processos do mensalão e da Lava Jato, vão disputar vagas na Câmara no ano que vem. Se, no passado, qualquer tentativa deles de reabilitação era podada no nascedouro, agora é uma estratégia de Lula trazê-los de volta.

O presidente tem dado esses incentivos publicamente, com afagos e apelos durante discursos pelo país.

Além colocar gente experiente em lidar com o centrão, a ideia de Lula é fazer desses velhos companheiros puxadores de votos que façam crescer a bancada para um eventual novo mandato seu na Presidência. A luta política se dá cada vez mais no parlamento e o presidente sabe o preço que pagou neste mandato por não ter uma base aliada ampla e fiel.

Em eleições anteriores, o PT sufocou toda tentativa de reabilitar esses personagens eleitoralmente. O caminho, agora, é inverso. Mais que bem-vindos a disputar cargos, esses antigos líderes do PT, que tiveram seus nomes manchados em escândalos, estão sendo praticamente “convocados” por Lula.

No caso de João Paulo Cunha, por exemplo, Lula afirmou em um discurso em Osasco, reduto eleitoral do ex-deputado na Grande São Paulo, que era para ele “parar de ganhar dinheiro” na advocacia e voltar à “porta de fábrica”.

A percepção do PT é que, ao contrário de outras eleições, esses nomes vão agregar eleitores, mesmo que haja uma rajada de ataques a suas biografias. A avaliação é que todo o desgaste já foi precificado. A eleição de Lula, em 2022, é vista pelos petistas como uma forma de ressignificar o passado, não só no caso da Lava Jato, mas também no mensalão, que estourou em junho de 2005.

Se Lula se reabilitou junto à opinião pública, por que não eles?

Pode ser uma visão otimista para uma eleição que promete ser bastante agressiva.

Uma aula magna de José Dirceu, esta semana, em uma universidade de Fernandópolis (SP), causou furor entre vereadores de direita da cidade, que tentaram cancelá-la. É certo que esse tipo de animosidade mais ajuda a campanha do ex-ministro do que atrapalha, insuflando o ânimo de seu eleitorado.

A questão é saber qual o peso dessas críticas na campanha presidencial e se a curva ascendente que se desenha na opinião pública sobre Lula pode ser afetada.