A professora de filosofia Gleide Andrade foi a notícia mais quente na disputa pela presidência do PT que levou Edinho Silva, ex-prefeito de Araraquara, ao comando da sigla com a digital do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Gleide, que cuidou do cofre da legenda nos anos em que Gleisi Hoffmann era presidente, quebrou tradição e viu mudar o estatuto do partido em relação à sucessão nos cargos executivos. Assim, Gleide permaneceu à frente da Secretaria Nacional de Finanças e Planejamento, setor responsável por controlar o caixa.

A “Gleide da Gleisi”, como alguns petistas a chamam, foi o pivô da negociação que uniu o campo majoritário em torno de Edinho. Mais que isso, ela provou ter bastante força junto a Lula, que determinou mudanças na executiva da legenda para acomodá-la.

A alteração consistiu em trocar o comando da comunicação do PT. Da Secretaria de Comunicação do partido, saiu Jilmar Tatto, de São Paulo, namorado de Gleide, e entrou Eden Valadares, da Bahia. Tudo isso porque Lula desaconselhou a presença de um casal da executiva. “Casal não dá”, teria dito Lula, na época da formação da direção, de acordo com interlocutores do PT.

Sobrou para Tatto uma das cinco vice-presidências do PT, cargo sem estrutura e sem muita relevância política, e a promessa de compor o GTE (Grupo de Trabalho Eleitoral) que vai conduzir a candidatura a presidente e as estratégias eleitorais do partido nos estados em 2026.

Gleide Andrade integra a CNB “Construindo um Novo Brasil”, maior corrente interna do partido, que tem Lula como o maior expoente. Sua recondução simboliza a continuidade da influência no partido de Gleisi, hoje na Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, depois de oito anos à frente da sigla.

O cargo ocupado por Gleide demanda preocupações extras para o PT. A tesouraria esteve no centro dos dois maiores escândalos do partido. No mensalão, o tesoureiro era Delúbio Soares. Na Lava Jato, quem cuidava do cofre era João Vaccari. Os dois estiveram presos em decorrência de irregularidades nas finanças petistas.

Negociações difíceis
Nascida em Divinópolis, no Centro-Oeste mineiro, formada em filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Gleide nunca exerceu um mandato eletivo. Nas últimas eleições, pela primeira vez, se candidatou a à Câmara dos Deputados. Obteve 49.620 votos, mas não conseguiu se eleger. Ela planeja disputar de novo uma vaga de deputada federal em 2026.

Antes de assumir o cofre nacional, Gleide ganhou fama por sanear as contas do partido em Minas Gerais. Essa fama se consolidou com negociações difíceis como a feita com João Santana, ex-marqueteiro do PT, preso e delator na Lava Jato. Santana cobrava na Justiça uma dívida de R$ 9 milhões. Gleide negociou para R$ 4 milhões. O PT acabou pagando R$ 2,3 milhões à vista, quitando a pendência com o publicitário.

Com grande influência no partido, mesmo sem ter sido eleita, Gleide também é responsável por indicações na Esplanada de Lula. Uma delas é a da ministra de Direitos Humanos, Macaé Evaristo, que assumiu a pasta após a saída do ministro Silvio Almeida, em meio ao escândalo de importunação sexual envolvendo a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco.