Com a tarifação de todo aço exportado para os Estados Unidos desde esta quarta-feira, 12, o mercado mundial do produto entrou em parafuso e, agora, os grandes players tentam dimensionar seus possíveis movimentos de olho nas reações em cadeia que podem gerar e, também, no impacto para a inflação doméstica. O Brasil é um bom exemplo desse momento de incertezas.
Receosa de uma guerra comercial com os Estados Unidos, a indústria nacional pediu para o governo brasileiro evitar um enfrentamento direto e priorizar as negociações na busca de uma alternativa. O setor produtivo brasileiro também tenta se prevenir de outra pedra no sapato: a venda de aço chinês mais barato para o Brasil, concorrendo com o que é produzido aqui. O pano de fundo desse debate é a estratégia de desenvolvimento das indústrias locais. Como é um componente importante, por exemplo, para a construção de edifícios e para a fabricação de eletrodomésticos e eletrônicos, o aço tem impacto direto na cadeia produtiva e nos preços.
Os empresários alegam que houve um enxurrada de aço chinês no mercado interno e, nos últimos anos, o governo brasileiro estabeleceu regras para limitar a venda de nove itens. Ainda assim, para este ano, a previsão do Instituto do Aço é de crescimento de mais de 11% das importações do aço laminado (para mais de 2,3 mil toneladas) e queda de 0,6% na produção nacional.
"Firmeza"
Na noite da quarta-feira, 12, a CNI (Confederação Nacional da Indústria) divulgou nota com um pedido para que o governo brasileiro atue com "firmeza" no caso para reverter as taxações consideradas desproporcionais. “O reposicionamento global dos Estados Unidos nos preocupa. Não temos dúvida de que há um equívoco quanto à relação com o Brasil, principalmente no que tange ao aço e ao alumínio”, diz o texto, assinado pelo presidente da CNI, Ricardo Alban.
Agora, com a instabilidade gerada no mundo em função da taxação pelo governo americano, os empresários brasileiros temem perder dos dois lados: na queda das exportações para os Estados Unidos e no aumento das importações da China que, diante das restrições da gestão Donald Trump, buscará crescer em outros mercados.
Os Estados Unidos tentam administrar o impacto da medida na economia local, já que o país não tem como atender, com a produção do país, a demanda da indústria americana pelo aço. O medo agora é que a medida gere mais inflação por lá. Se, nas análises preliminares, todos estão perdendo em algum lado, de onde virá a solução? Na sexta-feira, 14, haverá uma nova rodada de negociação da área técnica dos ministérios das Relações Exteriores e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio com seus pares americanos. O governo brasileiro sinalizou durante toda a quarta-feira que está confiante de que é possível encontrar uma saída.
Defesa unilateral
Após uma reunião de mais de uma hora com representantes do setor do aço, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o setor “tem argumentos consistentes de que os EUA só têm a perder” com a tarifação e que o diagnóstico do governo Trump está “equivocado”.
“O setor do aço pede providências tanto em relação às importações quanto em relação às exportações”, afirmou o ministro. Segundo Haddad, no entanto, “a estratégia não pode ser a mesma num caso e no outro porque as exportações envolvem uma negociação e, as importações, uma defesa mais unilateral”.
Na fala na saída do encontro, Haddad destacou ainda uma preocupação dos empresários brasileiros em relação ao comportamento do governo após declarações oficiais de que haveria retaliação, pois Lula e o vice-presidente, Geraldo Alckmin, falaram em "reciprocidade" quando abordaram o assunto nos últimos dias.
O ministro enfatizou, porém, que o próprio presidente já pediu “muita calma nessa hora”, pois o Brasil já negociou outras vezes até em situação muito mais desfavorável. De acordo com Haddad, o governo colocará “em primeiro lugar a mesa de negociação que está aberta com os americanos”.
Em nota oficial conjunta, os ministérios das Relações Exteriores e Desenvolvimento, Indústria e Comércio afirmaram que o Brasil considera a medida americana “injustificável e equivocada” e que “buscará, em coordenação com o setor privado, defender os interesses dos produtores nacionais”. O governo brasileiro afirma ainda que avaliará todas as possibilidades de ação no campo do comércio exterior para se contrapor aos efeitos nocivos das medidas norte-americanas e defender os interesses nacionais, "inclusive junto à Organização Mundial do Comércio”.