O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou sua torcida por Kamala Harris na eleição americana e preferia a vitória da candidata democrata porque, na avaliação de assessores, nada mudaria na relação do Brasil com os Estados Unidos. Já a vitória do republicano Donald Trump, encaminhada na madrugada desta quarta-feira, era vista no Palácio do Planalto como um resultado que dá força à ação de políticos opositores, principalmente os bolsonaristas.
A eleição de Trump era tratada pela equipe de Lula como "preocupante" por animar o que os assessores palacianos chamam de “tropa extremista”, com estímulo à propagação de fake news, ao negacionismo e aos discursos de ódio. Se o republicano perdesse, por outro lado, seria uma “derrota moral” para o próprio Jair Bolsonaro.
Enquanto os americanos ainda votavam, nesta terça-feira, outra preocupação do Planalto estava relacionada ao futuro de temas considerados caros para o governo brasileiro. Por exemplo, uma das leituras era a de que os debates em torno da agenda climática global, da qual o Brasil é uma liderança importante, podem sofrer prejuízos com Trump, que de volta à Casa Branca tende a jogar contra.
Na análise do Planalto, com Donald Trump, os negócios e investimentos entre os dois países não deverão sofrer grandes danos. Não haverá prejuízos nem contratos serão interrompidos, acredita o entorno de Lula, embora Trump já tenha sinalizado que deverá taxar importações.
Há, porém, outras questões que afetam o Brasil, como a alta do dólar – o que já vinha ocorrendo às vésperas da eleição americana. O movimento da moeda é atribuído em parte ao fato de o governo não ter anunciado ainda o corte de gastos para manter o arcabouço fiscal, mas a tensão também tinha relação direta com a possibilidade de vitória de Trump, que é protecionista.
No campo do multilateralismo, avaliavam nesta terça integrantes da equipe de Lula, a tendência é de “enfraquecimento” nas relações. A aposta é que órgãos da ONU, por exemplo, perderão força e espaço com Trump de volta ao cargo.
Ao mesmo tempo, os republicanos costumam ser mais realistas que os democratas e isso não seria ruim para o Brasil, avalia um auxiliar do Palácio do Planalto. Trump é um “isolacionista”, prioriza sempre a América, como ele mesmo costuma dizer. Agindo assim, abre campo para a ação de outros países. O Brasil, então, poderia ocupar mais espaço na cena internacional.
O relacionamento pessoal entre os dois presidentes tende a ser tranquilo, de acordo com a avaliação de auxiliares do Planalto. Assessores lembram como foi positiva experiência de Lula com George W. Bush, também republicano. Lula e Trump se dariam bem porque o republicano, embora intempestivo, é pragmático.
Quanto às críticas de parte da opinião pública pelo fato de Lula ter declarado apoio à candidata democrata Kamala Harris, integrantes do governo ouvidos pelo PlatôBR observam que o presidente brasileiro já havia manifestado apoio à reeleição de Biden antes mesmo de o atual presidente desistir da disputa e abrir espaço para sua vice. Portanto, avaliam esses assessores, o anúncio da torcida pró-Kamala não foi uma grande novidade. Integrantes da equipe palaciana defendem, ainda, que muitos outros governantes têm declarado suas preferências -- Javier Milei, da Argentina, é um exemplo.
Ao longo desta terça, Lula seguiu normalmente sua agenda enquanto era informado a todo tempo sobre o andamento das eleições americanas. Em situações assim, é o especialista no tema que precisa municiá-lo com atualizações constantes – no caso concreto, uma missão para o ex-chanceler Celso Amorim, agora assessor especial da Presidência. Em meio aos compromissos do dia, foi principalmente a Amorim que coube a tarefa de levar os informes ao presidente.