Em tempos de polarização política, nem sempre adversários conseguem manter a convivência pessoal. No Congresso, a relação entre dois deputados de campos ideológicos opostos chama a atenção pelo tratamento respeitoso e cortês, apesar das divergências de posições. Representantes dos dois partidos antagônicos, os líderes do PT, Lindbergh Farias, e do PL, Sóstenes Cavalcante, longe dos holofotes, cultivam longa amizade.
Os dois se conhecem desde a época em que atuaram no movimento estudantil, no início dos anos 1990. Os dois foram caras-pintadas juntos, em protestos contra o então presidente da República Fernando Collor (PRN). Por isso, mesmo depois de eleitos para as lideranças de partidos que se enfrentam no plenário, ainda se abraçam quando se encontram.
Lindbergh e Sóstenes sustentaram opiniões contrárias, por exemplo, na quarta-feira, 7, durante a sessão em que a Câmara aprovou a suspensão no STF da ação penal contra o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ) e beneficiava também o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros acusados pela tentativa de golpe de Estado na última transição presidencial. Nessas ocasiões, mantêm um tratamento civilizado e cordial.
Na juventude, Sóstenes foi militante do PT. Depois, virou pastor da Igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo. Passou a ter como seu mentor e líder religioso – além de político – o pastor Silas Malafaia, atualmente um ferrenho apoiador do ex-presidente da República Jair Bolsonaro.
Eleito deputado pela primeira vez em 2014, Sóstenes está em seu terceiro mandato. Foi presidente da Frente Parlamentar Evangélica e hoje é um dos mais ativos membros dessa bancada. É uma espécie de porta-voz do pastor Silas Malafaia, o líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo e o organizador dos atos em favor da anistia ao ex-presidente da República Jair Bolsonaro, acusado pelo STF de tentativa de golpe no país.
Secretário pessoal
Já depois de ter deixado o PT, Sóstenes foi secretário pessoal do amigo Lindbergh quando o petista era prefeito de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminente, no Rio, entre 2004 e 2010. “Ele é um amigo de longa data e trabalhou comigo. É uma amizade muito longa. Lá na Baixada é muito forte a presença evangélica e, por isso, o levei comigo”, explicou Lindbergh.
Sóstenes ocupou o cargo de segundo-vice-presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes) quando Lindbergh era presidente. Foi também segundo-secretário da UBES (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas) em Minas Gerais, onde morava em 1991.
“Todos nós sonhávamos com aquilo. Tínhamos esperança de que o discurso da esquerda pudesse mudar as coisas. Não tínhamos visto a esquerda governar. E eu acreditava que a esquerda pudesse fazer a justiça social que o Brasil precisa”, disse o pastor Sóstenes. “Ali eu já me divorciei da esquerda. Mas tenho bons amigos e dialogo bem com a esquerda”, garantiu.
“O Lindbergh continua sendo meu amigo pessoal e eu da família dele. Eu consigo ter diálogo com as pessoas. Entretanto, no campo das ideias e da política, a gente está em lados opostos. O pastor Silas também apoiou o presidente Lula quando ele virou presidente em 2002”, lembrou Sóstenes.